Press "Enter" to skip to content

Travessia Aiuruoca – Baependi Sozinho

10

4 dias na linda e pouco explorada Serra do Papagaio, entre os municípios de Aiuruoca e Baependi/MG

RESUMO

Aqui você encontrará todas as informações e a descrição do meu relato para a Travessia Aiuruoca – Baependi, no Parque Estadual da Serra do Papagaio. As duas principais atrações da travessia são o Pico do Papagaio e o Morro do Chapéu, os quais revelam lindos panoramas da Serra da Mantiqueira. A dificuldade técnica da trilha não é alta, sendo o maior desafio a mochila pesada. O trekking possui alguns trechos bem complicados com relação à orientação, por isso recomendo fortemente contratar um guia ou levar um GPS. São 4 dias de caminhada para um total de 50 km de sobe e desce de montanha, então vá com bom preparo físico. Há pontos de água no caminho, mas não a todo o tempo, portanto leve cerca de 4 litros de água. Que desfrute do passeio!

INTRO

Feriado de corpus Christi é a garantia de aventura de 4 dias na montanha. É o único feriado de 4 dias que sempre cai na época de frio.

Entrei no blog trilhas e trips do famigerado Augusto e li a respeito da Serra do Papagaio no sul de Minas Gerais. Segue o link.

A travessia tem início no município de Aiuruoca e segue até o Bairro da Vargem do Lage em Baependi passando pelos lindos picos Papagaio e Chapéu, situados no Parque Estadual do Pico do Papagaio.

Apesar de ter curtido muito a ideia, eu estava receoso, pois a logística deste passeio é um pouco complicada. Mas no fundo eu estava tentando ver o lado bom, uma vez que quanto pior o acesso, mais vazio o lugar 🙂

Roteiro

Mas vamos ao que interessa. Veja abaixo o roteiro desta linda travessia na Serra da Mantiqueira mineira:


ROTEIRO RESUMIDO

DIA 1 (25/05/2016):

  • Ônibus madrugueiro São Paulo -> Caxambu

DIA 2 (26/05/2016):

  • Ônibus Caxambu a Aiuruoca
  • 6 km de caminhada com 800 m de ganho de elevação até acampamento Pico do Papagaio

DIA 3 (27/05/2016):

  • 1,5 km de trilha até o cume do Pico do Papagaio para ver nascer do sol
  • 1,5 km de regresso ao acampamento
  • 16,8 km de caminhada até acampamento noite 2 passando pelo Pico Bandeira e pelo Retiro dos Pedros
  • A variação na elevação acumulada foi de 580 m subidos e 1.100 m descidos

DIA 4 (28/05/2016):

  • 17,6 km caminhados até o topo do Morro do Chapéu passando pelas cachoeiras do Charco e do Juju (certifique-se de que ainda pode acampar do topo do Chapéu. Nesta época podia, mas encontrei um guarda-parque que alertou que em breve restringiriam o acesso)
  • Neste dia houve variação na elevação de 1.000 m de subida e 900 m de descida

DIA 5 (29/05/2016):

  • 7,5 km e 800 m de descida do Morro do Chapéu até o Bairro da Vargem do Laje em Baependi
  • Resgate até Caxambu
  • Ônibus Caxambu -> São Paulo

Total caminhado nos 4 dias de trilha = 50,9 km

O tracklog da minha travessia se encontra neste link do Wikiloc.


PROGRAMAÇÃO E LOGÍSTICA

Como já dito, a principal preocupação deste passeio envolve o transporte para o inicio e do final da trilha.

São Paulo -> Caxambu

Aiuruoca é uma cidade de 6 mil habitantes e não existe ônibus direto de São Paulo, obviamente. A cidade mais próxima que possui bus de SP é Caxambu, que fica 45 km a oeste de Aiuruoca.

O trecho São Paulo -> Caxambu sai em vários horários distintos e custa por volta de R$ 73 pela viação Cometa. Comprar a ida para a quarta à noite e a volta para domingo à tarde. Foi só o que eu fiz por antecedência (erroneamente. Já explico).


Caxambu -> Aiuruoca

Opção 1:

De Caxambu para Aiuruoca há ônibus pela viação Sandra a um custo aproximado de R$ 18. O guichê da Sandra abre às 05:45 e os horários são poucos:

Horários Viação Sandra:

  • Caxambu -> Aiuruoca: 10:00 e 16:00
  • Aiuruoca -> Caxambu: 06:20

Este foi um dos motivos para eu haver escolhido iniciar por Aiuruoca, pois se fizer o inverso terá que fazer a travessia em 3 dias para pegar o ônibus das 6:20.

Para este trecho não é preciso se preocupar em reservar, pois eu peguei o ônibus bem vazio.

Opção 2:

Uma alternativa é ir pela Viação Santa Cruz que abre só às 07:30 e tem ônibus pra Juiz de Fora às 9:50. Mas acho que esse não compensa porque você vai ter que descer no trevo da Rodovia Vital Brasil (BR-267) que fica a 5 km de Aiuruoca.


O Resgate

Agora o mais difícil e mais caro: o resgate. Você vai precisar de alguém para te levar de Aiuruoca para o início da trilha e do Bairro da Vargem para Caxambu ou Baependi.

Se você decidir ir com seu carro, irá precisar de alguém para te buscar no final da trilha e te levar de volta. Não tem como escapar e vai gastar por volta de R$ 300,00. Segue contato de um local que faz este serviço:

  • Marcus: (35) 99944-1601

Eu, particularmente, não quis planejar um resgate por dois motivos:

  • Eu achava que em Aiuruoca a trilha se iniciava próximo da cidade
  • Existe um bus que sai do Bairro da Vargem e vai para o centro de Baependi e tinha esperança que haveria ônibus para a volta no domingo. Mas não tinha. No relato eu explico como desenrolei com a logística e a sorte monstra que eu tive.

Só para informação, seguem horários de ônibus do Bairro da Vargem até o centro de Baependi:

  • Baependi -> Vargem: Segunda, quarta e sexta às 15
  • Vargem -> Baependi: Segunda, quarta e sexta às 08:50

Obs.: existe um circular entre Caxambu e Baependi que passa a cada 20 minutos

Mas dentre todas estas opções é claro que eu fiz o inusitado, como poderá ver na descrição do relato.


GUIAS

No item acima eu apontei que o Marcus presta serviços de resgate, mas não é só isso. Ele é o dono da Pousada Ajuru, que oferece uma variedade de serviços turísticos na região, os quais podem ser encontrados nesse link.

Como já informado o telefone do Marcus é (35) 99944-1601 e ele me passou o contato dos seguintes guias para realizar a travessia:

  • Guia Carlos: (35) 9983-2217
  • Pedro Jank: (35) 9983-1062

Não posso recomendá-los porque não fiz o passeio com eles, mas se por acaso resolver tentar me diga se são bons pra eu colocar aqui no relato.


GASTOS

  • Ônibus São Paulo -> Caxambu (ida e volta) = R$ 150,00
  • Ônibus Caxambu -> Aiuruoca = R$ 18,00
  • Táxi Aiuruoca a Início da Trilha = R$ 40,00
  • Mercado = R$ 120,00
  • Almoço Caxambu = R$ 12,00

GASTOS TOTAIS PARA IR SOZINHO (2016) = R$ 340,00


RELATO DA TRAVESSIA

DIA 1 – São Paulo a Caxambu/MG

Sai do trabalho às 18, fui pra casa, fiz a mala, fiz a janta e peguei bus e metrô para o Terminal do Tietê em São Paulo.

Uma vez no Tietê, entrei no ônibus das 23:15 com destino a Caxambu e às 05:00 chegaria na rodoviária da cidade.


DIA 2 – Caxambu a Aiuruoca e 1º dia de trilha

Quando o ônibus chegou em Caxambu, tudo para mim estava obscuro e a logística foi bem complicada.

Às 05:45 o guichê da Viação Sandra abriu e perguntei sobre os ônibus que faziam o trecho Baependi -> Vargem do Lage e a moça nunca tinha nem ouvido falar deste bairro.

Peguei um circular que passa direto entre Caxambu e Baependi pra me certificar, já que o ônibus para Aiuruoca passa em Baependi também. O circular custou R$ 3,15.

Cheguei na Rodoviária de Baependi às 06:15 e não havia uma alma na rua. Sentei nuns banquinhos e dormi.

Às 8:00 a Rodoviária de Baependi abriu e fui perguntar sobre os ônibus pra Vargem e a atendente não sabia também. Disse pra eu perguntar na praça principal.

Voltei para meu banco e dormi mais até às 09:00. Só então levantei e fui até a tal pracinha, a qual fica a uns 500 m da estação.

Tomei café da manhã e foi na padaria que me informaram os dias e horários do ônibus para a Vargem. As opções não servem para mochileiros que não estão de férias: Segunda, quarta e sexta às 08:50.

Porém, o pessoal da padaria me informou que domingo bem cedo eu conseguiria carona do Bairro da Vargem para o centro de Baependi. Fiquei os próximos 4 dias com esta esperança, mas eu não recomendo que faça o mesmo.

No fim do relato eu explicarei como voltei pra Caxambu pra pegar o ônibus das 15 para São Paulo no domingo, mas já adianto que não foi como o esperado.

Bom, regressei à Rodoviária às 10:00 e comprei passagens do ônibus para Aiuruoca, que passou às 10:15.

Num ônibus bem vazio, finalmente tirei um bom cochilo. Cheguei em Aiuruoca às 11 e saí a procura do início da caminhada. Já não aguentava mais me preocupar com logística.

E para minha última surpresa, ao chegar em Aiuruoca descobri que a trilha começava a 12 km da cidade 🙂

Passei na praça principal da cidade, a qual possui uma igreja bem bonita. Havia um monte de gente se preparando para a cerimônia do feriado de Corpus Christi. Mas eu só conseguia pensar que já era tarde e estava longe de começar a caminhar.

Igreja Matriz de Aiuruoca
Igreja Matriz de Aiuruoca

Saí buscando informação na cidade até que passo por um bar que tinha um taxi parado na frente. Perguntei de quem era o taxi e quanto ficava pra ir. Me informaram que existem 5 trilhas diferentes que sobem, mas antes de me preocupar vi no tracklog do Augusto que havia uma igreja e um trutário perto do ponto inicial.

O taxista se chamava Gilberto e ele me informou que a corrida era R$ 50,00, mas eu barganhei pra R$ 40,00.

Após 12 km de estrada de terra o Sr. Gilberto me deixou no acesso a direita para o Truta, pouco depois da Igreja Nossa Sra. das Dores.

Finalmeeeente, ao meio dia, coloquei o mochilão nas costas e comecei o trekking.

O tempo estava completamente fechado e não fazia ideia de como era o Papagaio, que segundo o Sr Gilberto aparece bonitão no alto da serra.

Segui a pé pela estrada de terra, passei uma porteira e uma ponte e subi um trecho íngreme de concreto.

Saberá que está no Truta quando chegar numa propriedade com vários lagos artificiais pra pesca e com dois cães latedores, mas que não fazem nada, só vão te cheirar. Inclusive um deles me seguiu um pouco na trilha.

Depois de passar mais uma porteira, a estrada está abandonada e segue até um cocho onde tinha um cavalão pomposão.

Cavalinho
Início da travessia. Caminho segue pela esquerda

E é aqui que se inicia a trilha propriamente dita. Vire a esquerda no cocho ao invés de seguir reto no caminho mais batido.

Pouco após o início da trilha, passa-se uma cerca e o caminho torna a subir de um modo confuso… Há muitos caminhos de vaca e não existe uma trilha que se destaca claramente.

Em poucos metros comecei a ouvir um barulho forte de água e saí do tracklog em busca de uma cachu. Achei uma bela cachoeira de uns 6 m de altura, que não formava uma queda livre e nem possuía um poço, mas era a cachu que eu havia descoberto hahaha

Cachu delícia!
Almocei, curti um pouco o lugar e continuei rumo Papagaio.

À medida que eu ia subindo o tempo melhorava aos poucos, até que, por volta das 14:00 o tempo abre e o pico surge pela primeira vez.

Todo o caminho da subida segue com alternância entre pastos e vegetações densas. E à medida que se sobe a paisagem fica mais bela.

Se vê o pico do Papagaio bem ao alto, o caminho percorrido desde a igreja até o truta e um mar de morros a se perder de vista.

Panorama da subida para o Papagaio
Vista da subida para o Pico do Papagaio, o qual não aparece nesta foto

Os trechos de pastos são mais confusos, pois as vacas que ali transitam criam diversas opções de caminhos errados. Os trechos mais florestados possuem trilha bem demarcada.

Após um desnível de cerca de 500 m de desnível acumulados, chega-se no topo do primeiro morro no caminho do Papagaio, quando a trilha dá uma aplainada.

Neste ponto encontrei um guarda parque que informou sobre a proibição recente de se acampar no cume do Papagaio, para a minha tristeza…

Poucos metros adiante há uma bifurcação para seguir no caminho ou descer a direita para um poço.

Poço lindo

Vale a pena ir até o pocinho. O cenário é bem bucólico e a água gelada demais. Sem dizer que há uma charmosa cachoeira de uns 3 metros caindo nele.

Voltei para a bifurcação e segui por um trecho relativamente plano até chegar numa área pouco vegetada que apresenta uma linda vista do cume.

O Pico do Papagaio
O Pico do Papagaio

A partir deste ponto a trilha volta a subir, porém agora num grau de inclinação mais suave que a primeira ascensão.

O entardecer se aproximava e comecei a me conformar que não chegaria ao cume do Papagaio para assistir ao pôr-do-sol.

Andei mais 40 minutos até chegar na área de acampamento. Este ponto marca a bifurcação entre a subida para o Pico do Papagaio e a continuação da travessia.

O lugar é bem destacado como a última área de camping antes do cume.

Como não havia muito tempo pra mais nada, montei acampamento ali mesmo.

Não havia uma alma viva acampando… Tava só eu e a mata.

Armei a barraca, bati um rango e fui dormir às 20:00.


DIA 3 – Pico do Papagaio e Pico Bandeira

Acordei às 5 da manhã com a lua brilhante iluminando o interior da minha barraca.

O céu estava totalmente aberto, o que me deu um ânimo gigante pra correr até o Papagaio e contemplar o nascer do sol.

Pulei do saco de dormir e parti para o ataque sem nem comer nada.

Com a lanterna na cabeça caminhei cerca de 30 minutos até chegar no topo do pico, situado a 2.105 msnm.

E cheguei no momento exato.

Pensa num cenário arrebatador.

Estava eu no cume daquele imenso paredão de pedra, de onde se pode ver a Serra Fina e a Serra de Itatiaia de um lado, a Serra de Carrancas de outro e dezenas de morros a se perder de vista.

Mas o que eu presenciei não foi exatamente isso.

O que vi foi um estonteante mar de nuvens que dominava o horizonte. O tapete impressionante e infinito me deixou embasbacado. Talvez com foto dê pra tentar imaginar.

Nascer do sol 1/2
Nascer do sol visto do cume do Pico do Papagaio às 6:18
Nascer do sol 2/2
Nascer do sol do Pico do Papagaio às 6:53

Era surreal. Quase chorei haha.

E se não bastasse, aqui eu fiz o melhor sobrevôo de drone da minha vida. Dê uma olhada na imagem que consegui captar.

Vista aérea do Pico do Papagaio
Imagem aérea do Pico do Papagaio. Eu estou no ponto mais alto do paredão.

Às 7 voltei pra minha barraca e fui tomar café.

Desmontei as coisas, arrumei a mala e voltei a caminhar por volta das 9:00.

Meu plano neste segundo dia era caminhar o máximo que eu conseguisse para ficar o mais próximo que desse do Morro do Chapéu, ponto de acampamento da terceira noite.

Do acampamento, caminhei por 1 hora em um terreno mais ou menos plano até uma bela formação rochosa no topo do Morro do Tamanduá. Inclusive dei uma brincada e escalei um matacão.

Morro do Tamanduá
No topo do Morro do Tamanduá

Daqui se caminha no topo da Serra do Papagaio por 2 horas numa alternância de subidas e descidas de morros até atingir a base do Pico Bandeira. Este é o morro mais alto da travessia, com seus 2.360 msnm.

Subi-lo não é parada obrigatória, mas eu decidi ir. Escondi a mala nuns arbustos e parti para a ascensão.

A subida levou cerca de meia hora e achei bem linda a vista, pois é possível ver os dois principais picos, Papagaio e Chapéu, e ver todo o caminho dos 4 dias da travessia por sobre a serra.

Do cume do Pico da Bandeira
Vista do Pico do Papagaio do topo do Pico Bandeira

Voltei para a mochila e parti em direção ao Retiro dos Pedros, talvez a melhor área pra se acampar de toda a travessia. Ela é bem plana e abrigada do vento, além de possuir um ponto d’água.

Retiro dos Pedros
Retiro dos Pedros. Possui um ponto de captação d’água

Mas como era muito cedo segui reto num terreno plano e com vegetação de campos de altitude até que se encontra uma área de mata atlântica que marca o início de uma descida.

Agora a trilha segue numa alternância de áreas descampadas com áreas florestadas e acumula uma descida de 350 metros de desnível.

Há um lindo mirante em um dos pontos que a vegetação é rasteira, que apresenta um ótimo panorama do Morro do Chapéu e da Cachoeira do André. É possível observar que a trilha contorna todo o vale do Rio Baependi pra depois bater em direção ao Chapéu. Mas este dia eu ainda não sabia onde iria dormir…

Ao fim da descida se chega numa área bem plana, o Acampamento Daime. Há inclusive uma comunidade de Santo Daime próximo ao local.

Saí um pouquinho da trilha pra visitar o Totem do Sol e depois segui adiante na trilha.

Totem do Sol
Totem do Santo Daime

Passei por uma estrada numa área florestada até chegar numa bifurcação que marca o ponto mais baixo da travessia desde a parte baixa da Serra do Papagaio.

Peguei à direita e subi um morrinho, agora num cenário mais parecido com o cerrado.

O céu já começava a alaranjar e não parecia que eu encontraria alguma área ideal para acampar.

Pôr do sol na trilha
Belo pôr do sol do meio da trilha

Por volta das 17:50 minha visibilidade já estava bem limitada e resolvi parar numa área descampada, a 50 metros de um riozinho.

E me instalei ali mesmo… Só havia eu e a lua…


DIA 4 – Cachoeira do Juju e Morro do Chapéu

Hoje eu tinha que chegar ao cume do Morro do Chapéu. Acordei às 5:30 e comecei a caminhar junto com o sol. O terreno seguia com alternância de descidas e subidas, mas com predominância de subidas. Este dia disponibiliza de incontáveis ótimos pontos de captação d’água.

Após cerca de 1:30 de caminhada encontrei o Rio Gamarra, onde é preciso molhar os pés para atravessar.

River Cross
Não confie no tronco. Molhe os pés sem medo

Após cruzá-lo, você subirá um morro onde encontrará uma bifurcação. Siga à direita para contemplar a bela cachoeira do Charco. Esta possui uma bela queda com uma potência tremenda, além de um lindo poço para mergulhar.

Cachoeira do Charco
Cachoeira do Charco. Próximo a ela há uma excelente área para camping

Segui adiante na trilha e agora se inicia um trecho longo de sobe e desce e contorna morros.

Após 2 horas se chega num mirante para a linda cachoeira do Juju, no momento em que a vista do imponente Morro do Chapéu já era mais próxima.

Aqui é preciso descer um morro pra chegar até a Juju e achei esse o ponto mais confuso da travessia.

Desça o morro até encontrar uma cerca. Ela marca uma bifurcação que eu erroneamente segui à direita.

Vire à esquerda ainda que não pareça o caminho certo… A mata quase fecha a trilha, o que me fez escolher o outro caminho e foi uma volta imensa e um perrengue monstro pra chegar na Juju.

Assim que cheguei ao rio fiquei surpreso com a grande quantidade de pessoas lá fazendo um churrascão na cachu. Até então só tinha encontrado 3 grupos de turistas.

Subi o rio visando encontrar um ponto mais privado para o meu banho. Achei um confortável poço onde almocei e fiquei tranquilo uma meia hora.

Corredeiras do Juju
Almoço e mergulho nas corredeiras do Juju

Voltei pra trilha e subi o Pico do Charco. O caminho segue paralelamente às corredeiras do Juju, subindo constante e sempre se aproximando do Chapéu.

Cachoeira do Juju
Vista de drone da Cachoeira do Juju, com seus cerca de 130 m

Após quase 1 hora se encontra uma casinha amarela que é um abrigo e ótimo ponto para acampar. Encontrei um guia no caminho que disse que em breve iriam proibir acampamento no topo do Morro do Chapéu e este ponto se tornaria quase uma parada obrigatória pra quem deseja fazer esta travessia.

Daqui a trilha torna na direção do objetivo do dia. Há diversos mirantes para o Chapéu no caminho.

Vista do Morro do Chapéu ao longe
Se aproximando do Morro do Chapéu, no alto da Serra do Papagaio

Cerca de 1:30 h do abrigo a trilha contorna outro vale e apresenta uma bela vista do Pico do Chapéu que até se assemelha com um chapéu de vaqueiro haha.

Já se aproximava das 16 horas e o cume do morro ainda parecia distante. E comecei a questionar se seria possível acampar bem no cume porque os últimos 100 metros eram muito inclinados.

A trilha contorna outro vale e sobe ate o lindo mirante da cruz. Depois desce até uma bifurcação, a qual separa o caminho para o topo do morro e a continuação da travessia para o Bairro da Vargem.

O Morro do Chapéu
Morro do Chapéu. Ainda não sabia se conseguiria subi-lo

Eu peguei à esquerda visando abastecer meus cantis, pois há um bom ponto de água ali na mata, que por sinal também é uma ótima área de camping.

Fiquei tranquilo, pois caso não desse para alcançar o cume, eu teria um bom lugar para pernoitar.

E voltei para a bifurcação visando subir o Morro do Chapéu, ainda sem saber se era possível.

Segui adiante na trilha quando avistei 3 pessoas caminhando no mesmo sentido que eu. Mal sabia que estas pessoas viriam a serem meus salvadores hahhaha.

Zé, Mateus e Emerson também não sabiam se era possível chegar bem no cume e seguimos caminhada.

Assim que chegamos ao pé do trecho mais proeminente da montanha, a trilha segue por mata fechada num caminho bem inclinado e bem batido.

Logo já percebi que a trilha de fato nos levaria até o cume, só restava saber se haveria bons lugares para montar barraca.

Assim que eu percebi que a subida estava acabando, o êxtase já começou a me dominar.

O topo possui lugar pra dezenas barracas.

A vista que surge é arrebatadora, com vista para diversas serras no entorno do Morro do Chapéu e da baixada da serra e do bairro da Vargem.

No cume do Morro do Chapéu
No cume do Chapéu

Pra completar, eu consegui chegar bem na hora do pôr-do-sol. Tava feliz da vida. Mas as boas notícias não tinham terminado.

Pôr do sol
O entardecer no topo do Morro do Chapéu
Barraca
Minha barraca e a vista do vale

Enquanto eu montava a barraca estrategicamente para ficar de frente para o nascer do sol, os 3 parceiros que dividiriam o topo comigo vieram trocar ideia.

Após nos apresentarmos, eles perguntaram como eu faria pra ir embora e eu disse que ia tentar carona. Pra minha maior sorte da trip, eles me ofereceram carona até a Rodoviária de Caxambu! Pensa num acaso bom!

Trocamos mais ideia, assistimos um lindíssimo pôr-do-sol e depois fui para a minha barraca.

Jantei e capotei.


DIA 5 – 4º dia de trilha e retorno à São Paulo

Acordei às 5:30, contemplamos um belo nascer do sol e me aprontei para descer toda a serra com meus novos parceiros.

Vista aérea do Morro do Chapéu
Vista aérea do Morro do Chapeú

A trilha neste último dia não tem segredo. Caminhamos batido por mais de 7 km por vegetação densa até o pé da serra até chegarmos numa porteira que dá entrada para uma fazenda.

Já terminando
Porteira com vista do Morro do Chapéu, agora já na baixada da serra

Passamos a caminhar por estrada de terra até atingir uma via principal que nos levaria até o Bairro da Vargem.

Às 10 atingimos nosso destino final de caminhada, felizes da vida. E eu mais ainda por ter encontrado companhia e conseguido carona.

Comemos um salgado e tomamos uma coca num boteco quando o Marcus do resgate chegou.

Colocamos as mochilas no carro e partimos rumo Caxambu.

Após sair com o carro percebi que não teria sido fácil arrumar uma carona. Não vimos nenhum carro indo no mesmo sentido que a gente por 25 km, até chegar na rodovia BR-354. Portanto, não deixe de contratar um resgate para o regresso. Virou até piada eles me dizendo que não fosse por eles eu tava ferrado hahaha.

Eles me deixaram na Rodoviária de Caxambu ao meio-dia.

Andei 1 km até o centro da cidade pra procurar um lugar pra almoçar. Ranguei como um loco já que não via comida quente fazia 4 dias hahah.

Voltei pra rodoviária e peguei meu ônibus das 15 h pra São Paulo.

Foi um passeio fabuloso cheio de incríveis experiências e panoramas espetaculares. Não deixe de visitar.

Obrigado pela leitura!

Amanhecer do topo do Papagaio

Abraços!

  1. Leandro Leandro

    Bom dia!

    Estou querendo fazer esse travessia e nao encontro resgate para me levar no começo e nem para me pegar de volta.

    • VictorPrates VictorPrates

      Olá Leandro! Você tentou o contato do Marcus no item, “Resgate”? Infelizmente foi o único contato que encontrei. Você pode tentar procurar outros na net se ele não te responder. Abs

  2. Samuel Oscar Samuel Oscar

    Massa demais Victor, me auxiliou bastante seu relato.
    Consegui tbm fazer algumas imagens aereas que vou disponibilizar no meu canal (DRONE DA MONTANHA).
    Mais uma vez obrigado pelas dicas.

    Att. Samuel Oscar

    • VictorPrates VictorPrates

      Que bom que ajudou, Samu! Drone da Montanha é clássico 🙂 Um abraço!

  3. Massa ler seu relato, a visão de alguém de fora é sempre muito interessante. A galera costuma fazer essa travessia mais no sentido oposto ao que tu fez. Fica a sugestão pra uma próxima investida. É sem dúvida uma travessia muito contemplativa, mas requer atenção, não dá muito pra classificar como “fácil” né? hehe Abraço, velho!

    • VictorPrates VictorPrates

      Fala Ramon, desculpe a demora, meu velho. Valeu a dica! Quando eu voltar, eu a faço no sentido contrário 🙂 Qualquer travessia de múltiplos dias se torna difícil pra mim e com essa não foi diferente. Com certeza vale muito a pena pelas lindas paisagens. Forte abraço!

  4. Marcos Marcos

    Olá, sou Marcos e começo dizendo que adorei esse relato, eu queria fazer essa travessia com minha ex namorada a uns meses, infelizmente terminamos e agora tô em carreira solo.
    Gostaria de saber se eh possível fazer em novembro, e se existe alguma dificuldade técnica.

    • VictorPrates VictorPrates

      olá Marcos. Que bom que gostou! Desculpe a demora a responder. Apesar de os meses de outono e inverno serem melhores pra fazer trilha de montanha, devido à baixa pluviosidade, acredito que em novembro seja possível fazer também.

  5. Lucas Nunes Lucas Nunes

    Olá Victor.

    Essa trilha é bem sinalizada para um iniciante, mas doido, como eu ir sozinho?

    • VictorPrates VictorPrates

      oi Lucas, desculpe a longuíssima demora. Eu também sou do tipo aventureiro, mas cuidado com as doidices hehehe. Sempre bom ter um pouco de prudência. Aconselho que se acostume a andar com um GPS, pois ajuda demais a não dar problema

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.