O lindo e remoto Rio das 7 Cores numa antiga área das FARC
Índice
INTRO
O Caño Cristales é um rio da Colômbia, situado no Parque Nacional Serranía de la Macarena, famoso por possuir uma plantinha aquática vermelha, que dá uma coloração toda mágica pra ele.
Mas nem toda beleza vem como recompensa fácil. Para alcançar o rio será necessário se deslocar até o município de La Macarena, no departamento Meta, e é aí que mora a dificuldade, visto que esta região é bem remota. Inclusive, a cidade fora ocupada pelas FARC até pouco tempo atrás.
Além disso, há uma época específica do ano em que o rio está com a coloração vermelha. Siga lendo, para saber todos os detalhes de como explorar esta maravilha da natureza.
Minha passagem pelo Caño Cristales foi só uma parada do meu mochilão de 3 meses pelo país. Se quiser saber mais, acesse o Guia Turístico Completo da Colômbia e o Mochilão de 90 Dias pela Colômbia.
Para os preços indicados em pesos colombianos neste post, considere que quando fui ao país R$ 1,00 valia 900 COP (Ex.: 9.000 pesos = R$ 10,00).
COMO CHEGAR
Por Terra
Há duas maneiras de se chegar em La Macarena por terra: uma por Neiva e outra por Florência. Cheque sempre o mapa abaixo, pois a partir de agora eu vou falar sobre um monte de cidades que você nunca ouviu falar, com exceção de Bogotá.
A opção mais curta é ir de Bogotá a Neiva, no departamento de Huila, e daqui pegar um carro que vai até La Macarena. Esta rota passa por San Vicente de Caguán, custa 95.000 pesos colombianos (R$ 105) e dura cerca de 10 horas (ouch!). Segue o contato da Cootranscaguan, a companhia que realiza este trajeto, caso queira verificar disponibilidade de carros e horários com antecedência: tel.: (+57) 320-216-8441; e-mail: gerenciacootranscaguan@hotmail.com.
Outra opção é ir de Bogotá a Florência, no departamento de Caquetá, depois a San Vicente de Caguán e por fim pegar um carro a La Macarena. Esta foi a minha opção, pois eu não sabia sobre o trecho de Neiva a San Vicente. Por sinal, você dificilmente encontrará alguma informação sobre este trajeto na internet e ainda por cima o Google Maps não vai nem marcar o traçado.
De Florência a San Vicente você precisará tomar ônibus ou táxis públicos, com preços que variam entre 20.000 e 30.000 pesos. Há poucos horários de ônibus por dia, então eu fui de táxi. Segue contato de dois taxistas de Florência: Juan Carlos (+57 311-479-2577) e Jaime (+57 313-230-5873). Eles disseram que basta contactá-los no dia anterior à viagem, que se eles não puderem levar eles arrumam alguém pra ajudar.
De San Vicente de Caguán a La Macarena os horários de carro são apenas pela manhã, então saia bem cedo de Florência caso não queira dormir em San Vicente. Este trajeto custa 50.000 pesos e seus horários aproximados são: 7h, 8h, 9h e 12h30min.
Para regressar, os horários de La Macarena para Neiva com parada em San Vicente de Caguán são: 5h, 7h, 9h e 11h30min
De Avião
Conheci 3 colombianas que pagaram 400.000 pesos (R$ 440,00) por pessoa para ir de avião de Villavicenzio a La Macarena. Acho o preço honesto e, além disso, elas disseram que o vôo sobre o parque é lindíssimo. É uma boa opção se não quiser gastar 2 dias somente para mobilização.
Por terra, saindo de Bogotá, são necessários muitos transportes e os gastos superam os 250.000 pesos ida e volta. Avião vale a pena se não estiver fazendo uma viagem com tempo. Na real, esta é a minha opção recomendada, porque a viagem por terra é cara e bem looooonga, pra não dizer outra coisa.
Com um Tour
Esta é a opção mais confortável e mais cara, obviamente.
Você pode contratar um pacote de 4 dias saindo de Bogotá, Cali ou Medellín, mas eu acho que essa opção não compensa, visto que, desta forma, os gastos irão superar os 1.500.000 pesos (R$ 1.700,00). Para ir por conta, basta comprar as passagens para La Macarena de Villavicencio como indicado no item anterior. Uma vez lá, você encontrará opções de hospedagem e passeios sem nenhuma dificuldade.
QUANDO IR
A planta macarenia clavigera, que dá as colorações para o Caño Cristales, é endêmica do Parque Nacional Serranía de la Macarena. Ela não aparece no rio o ano todo, portanto visite o parque do final de maio ao começo de novembro.
Esta curiosa planta pode tomar diversas cores a depender das condições de precipitação e temperatura e da época do ano. As mais abundantes são a vermelha e a rosa, mas em alguns trechos do rio, elas podem apresentar uma cor branca e até verde.
A partir de outubro (mês que eu fui) o verão vem chegando, as águas começam a secar e, consequentemente, o nível do rio abaixa. Então todas as plantas morrem, já que elas são aquáticas. O que elas fazem para perpetuar a espécie é deixar umas sementes que hibernam na rocha seca por mais de 5 meses, até aflorarem novamente no outono do ano seguinte. Interessante ou não?
COM AGÊNCIA OU GUIA LOCAL
Além de gastar uma baita grana pra se mobilizar até La Macarena, você terá que desembolsar mais uma, pois é obrigatória a contratação de um guia. Apesar da gente querer fazer as coisas por conta, este e o único modo de garantir a preservação deste sistema tão delicado. Não fosse por isso, haveria altas chances de as plantinhas coloridas não existirem mais.
Com Agência
Em 2017, o dia do tour custava 260.000 pesos (cerca de R$ 290,00) e inclui guia, transporte e almoço. Eu queria fazer mais de um dia de passeios para ver as plantas aquáticas verdes e brancas, mas desisti, pois teria que gastar outros 260 mil.
Meu contato foi a gente boa Carol da agência Asocristales. Seu número de celular é (+57) 311-440-2758 e este é o link da sua página no Facebook.
Com Guia Local
Você pode tentar ir por conta e encontrar um grupo e fechar com um guia na raça. Assim, você pagará 35.000 de transporte de barco e jipe, 25.000 referentes à entrada do parque e mais cerca de 80.000 pelo guia. Mas a maioria acaba fechando com alguma agência visto que pode ser um pouco difícil juntar 5 pessoas.
RESUMO DE GASTOS
- Transporte desde Bogotá = 250.000 COP
- Quatro noites de hospedagem (2 em Neiva ou Florência e 2 em La Macarena) = 94.000 COP
- Refeições para 4 dias = 56.000 COP
- Mercado = 11.550 COP
- Passeio com a Asocristales = 260.000 COP
GASTOS TOTAIS (2017) = 671.500 COP = R$ 750,00
O RELATO
Chegando em La Macarena
Pra quem veio do meu relatão completo sobre a Colômbia, sabe que eu entrei no país pelo Equador e vim visitar o Caño Cristales a partir de San Agustin, em Huila, cidade que possui um lindo sítio arqueológico.
Ao sair de San Agustín, peguei uma van até Pitalito e depois outra que desce o planalto andino, por um visual de florestas lindíssimo, até chegar em Florência.
Como já explicado no item Como Chegar, peguei um táxi coletivo de Florência a San Vicente de Caguán e depois um carro até La Macarena.
Esta viagem partindo de San Vicente é uma aventura só. Vá com a mente relaxada, pois o motorista atrasou e ficava parando toda hora pra descansar. Ao menos o cenário fica bem bonito do meio pra frente e atravessa uma vegetação nativa bem robusta.
Uma coisa interessante nesta viagem é a quantidade de soldados do exército no caminho, uma vez que esta zona era dominada pelas FARC até pouco tempo atrás. Inclusive, o turismo na região só começou em 2010.
Todos os soldados foram muito simpáticos e sorridentes. Perguntei a eles se havia guerrilheiros dissidentes e eles disseram que não (mas tem). Até perguntei se podia tirar uma foto de suas metralhadoras e eles não viram problema.
Chegaríamos no nosso destino por volta das 16h.
A Vila de La Macarena
A cidadezinha é extremamente simpática. A maioria das ruas são de terra e as casas têm uma arquitetura bem simples. Sua população estimada é de 4.000 pessoas.
A vila possui boa estrutura pra turismo e se paga cerca de 8.000 pesos por um corriente (prato feito).
Nos hotéis não costuma ter Wi-Fi, mas há duas praças com internet pública e a rede pega bem. Pode ver que muitos locais vão à praça somente para usar o celular.
Assim que cheguei na cidade, um rapaz me viu com cara de gringo e perguntou se eu queria conhecer o Caño Cristales. Então, ele me levou de moto até a Carol, representante da agência Asocristales.
Há muitas motos na vila e ninguém usa capacete. Então parece que aqui ou você aceita a caronas displicentes de moto (serão várias) ou anda a pé.
Nem as dezenas de soldados do exército que estão por todas as partes se incomodam com isso. Muito menos com as crianças de 13 anos conduzindo as motos. Aqui é um mundo à parte.
Quando a Carol me falou dos preços do tour, eu quase chorei. Os 260.000 pesos fugiam do meu orçamento esperado de 100.000 e eu simplesmente não tinha dinheiro suficiente. Há um caixa automático da Servibanca na cidade, porém meu cartão não passava (ô tristeza). A solução dada pela Carol foi ir até um hotel e passar no crédito a quantia que eu queria sacar (com uma multinha salgada em cima, obviamente). Felizmente consegui e não fiquei na mão após minha falta de planejamento. Leve grana sobrando!
Briefing do Passeio
Carolina veio me buscar de moto, claro, às 7h10 no Hotel Gorila.
Fomos até o prédio do parque onde se assiste o vídeo de introdução ao Parque Nacional Serranía de La Macarena. Aqui conheci o grupo que me acompanharia: o australiano Joe e as colombianas Olga, Adriana e Francy.
O vídeo mostra que não se pode ingressar com garrafas plásticas e nem com protetor solar. Show. Eu não estava com manga longa e me ferrei no sol. Também não se pode passar nada na pele pra preservar as plantas. Cremes e maquiagem estão proibidos.
O vídeo também apontou que o parque se situa em Los Llanos, uma zona de convergência dos biomas andino, amazônico e do orinoco e por isso a biodiversidade é muito peculiar.
Após o briefing, Carol me levou para tomar café da manhã (não incluso no pacote) e depois nos encontramos na praça principal de La Macarena.
Transporte ao Caño Cristales
Saímos da vila e caminhamos por 5 minutos até o Rio Guayabero. Aqui conhecemos o nosso guia Byron.
A travessia de barco foi curta e termina direto na entrada do parque nacional, onde revistaram nossas mochilas uma a uma pra verificar se não havia garrafas e protetores solares.
Por fim, um carro nos pegou e nos levou até o início da trilha.
Neste ponto havia alguns soldados do exército. Conversamos com um senhor que serve há 21 anos, que disse que esse acordo de paz entre o governo colombiano e as FARC não passa de uma farsa. Isto porque, o governo prometeu muito dinheiro para elaborar o acordo, dinheiro este que o país não tem.
Por via das dúvidas, venha logo conhecer o Caño Cristales. Mais pra frente contarei um outro motivo pra você visitá-lo o mais rápido que puder.
A Trilha para o Caño Cristales
Enfim iniciamos nossa tranquila caminhada pelo sol ardente da região. A mata nativa do parque não é muito robusta e, portanto, não protege bem do sol. O ambiente por vezes lembrava um pouco o cerrado brasileiro.
Caminha-se cerca de 1 hora até encontrar o glorioso rio Caño Cristales. No início ele parece um rio comum de água transparente, porém, pouco adiante se dá a primeira aparição das plantas coloridas.
E olha, valeu todo o esforço e o deslocamento pra vir até aqui. Dá uma olhada na nossa primeira corredeira rosa:
A manhã foi toda assim, caminhando por belíssimas corredeiras recheadas com a nossa querida plantinha.
Informação importante: não ande nos lugares em que dá pra ver onde o rio passava antes do nível abaixar. Nestes locais, estão as sementes da macarenia clavigera que hibernarão até o ano seguinte. Você verá que são as porções em que as rochas estão mais escuras.
Na parte da tarde, paramos numa cachoeira com um poço de água transparente perfeito para banho. Curtimos um pouco sua água fabulosamente fresca e depois fomos almoçar.
O almoço foi um suculento frango com arroz, mandioca e banana envoltos em folhas de bananeira para evitar que turistas inconscientes deixem plásticos na natureza.
Se já estávamos super satisfeitos com o passeio, mal tínhamos ideia do que nos aguardaria na segunda parte da trilha.
Caminhamos aproximadamente 40 minutos até chegarmos na corredeira-mor, que configura a porção com a maior quantidade das plantas macarenáceas:
Por fim, chegamos na parte que seria o nosso último contato com o Caño Cristales. Era uma série de cachoeiras seguidas de vários pocinhos circulares.
Maravilhados, iniciamos o caminho de regresso à La Macarena.
Na volta, o guia Byron nos mostrou um piche estranho que saia de algumas porções do solo. Ele nos contou que na região há muito petróleo e que o governo está interessado em sua exploração. Isto acabaria totalmente com o parque, porque teriam que usar a água do rio no processo, o que eliminaria a macarenia clavigera. Segundo ele, isso não é nada certo e provável que tenha que haver um referendo na cidade de La Macarena antes. Por via das dúvidas venha logo visitar o Caño Cristales.
No final do dia, tomei um banho gostoso no Rio Guayabero.
Ah! Não esqueça de prestar atenção nos muitos lindos lagartinhos verdes que se pode observar durante toda a trilha.
Essa foi a minha jornada até o Rio Caño Cristales. No dia seguinte peguei o carro de volta a San Vicente de Caguán e um táxi a Florência, onde havia deixado minha mochilona (não fosse por isso eu teria pegado o carro direto pra Neiva).
Obrigado pela leitura e um abraço!
