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Fim de Semana Inusitado no Pico Paraná

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Um relato de alguém que vai fazer trilha sem saber como será o regresso à casa

RESUMO

Descrição da viagem mal planejada que fiz para o Pico Paraná saindo de São Paulo. Só o que fiz antecipadamente foi comprar a passagem de ônibus de São Paulo até Curitiba para a madrugada de sexta para sábado. O regresso você descobre como foi lendo o relato hahaha. São 14 km de subida da Fazenda Pico Paraná até o topo da montanha, sendo que nos últimos 2 km a trilha é exposta e apresenta trechos de trepa pedra e subida por escadas que podem ser muito perigosas em dias chuvosos. Por isso, recomendo que faça a trilha durante o outono/inverno.

INTRO

Mais um final de semana comum se aproxima e meu coração inquieto me chama pro mato. Desta vez não havia ninguém pra me acompanhar, então tive que pensar num passeio que desse pra ir sem carro e que não precisasse gastar muito dinheiro com resgates.

Saindo um pouco do Estado de São Paulo vi que o Pico Paraná, localizado no Parque Estadual Pico Paraná, situado a 60 km de Curitiba, revela lindas paisagens da Serra do Mar e do litoral paranaense, além de ser o ponto mais alto da região do sul do Brasil, com 1.877 msnm.

Este passeio não exige uma logística elaborada para chegar, entretanto a volta é outra história. Saindo de São Paulo em um simples fim de semana e sem carro torna este passeio uma verdadeira aventura. 🙂

Roteiro

ROTEIRO RESUMIDO

Sexta (22/07/2016):

  • Ida até a Rodoviária do Tietê em São Paulo depois do expediente no serviço

Sábado (23/07/2016):

  • Entrada no ônibus das 00:20 com destino à Curitiba
  • Chegada no km 46 da BR-116, onde está o acesso para a Fazenda Pico Paraná às 5:40
  • Carona de 5,5 km até a fazenda, cadastro na entrada e início do trekking às 7:00
  • 6 horas de caminhada até a cume do Pico Paraná, num total de 14,3 km caminhados, saindo da cota 800 até 1.877 msnm
  • Montei acampamento às 13, fiz amizades, um vôo com o drone, jantei, assisti ao pôr-do-sol e fui dormir às 19:00

Domingo (24/07/2016):

  • Acordei às 05:20, assisti ao nascer do sol e comecei a descer às 7:00
  • 4 horas de caminhada de volta até a fazenda
  • Carona até Curitiba que consegui com os parceiros que conheci na trilha
  • Entrei no ônibus das 16:15 rumo à cidade de São Paulo
  • Chegada no Tietê às 23:40 e em casa à 00:30 para dormir tranquilo e chegar no trabalho descansado para o dia seguinte

O tracklog do trajeto se encontra neste link.


PROGRAMAÇÃO E LOGÍSTICA

De Carro

A trilha se inicia na Fazenda Pico Paraná, cujo acesso se dá no km 46 da Rodovia Régis Bittencourt (BR-116), no trecho que liga Curitiba à fronteira dos estados SP e PR.

A maioria das pessoas que querem acampar no Pico Paraná saem de carro de Curitiba no sábado de manhã. Se você mora em São Paulo como eu, você pode optar por sair na sexta-feira à noite ou no próprio sábado por volta das 3:00 da madrugada. Como o trajeto de carro dura cerca de 4:30 horas é importante iniciar a trilha bem cedo, uma vez que o cume do pico lota de barracas antes das 13:00.


De Ônibus

Segue a logística para quem quiser ir de ônibus de São Paulo:

  • Ida

Para fazer este passeio num fds, só o que é necessário para se programar é comprar a passagem de ida (somente a de ida) de São Paulo para Curitiba no site da Viação Cometa.

Como este trecho possui diversas opções de horário, escolha um ônibus com saída na sexta a noite ou sábado de madrugada para que você chegue no inicio da trilha pela manhã. O tempo de viagem de SP a Curitiba é de 6 horas, mas lembre-se que você vai saltar a 60 km do destino final do ônibus, então fique atento após umas 04:30 de viagem.

Ao entrar no bus, peça para o motorista te deixar no km 46 da Regis. Não esqueça de levar a mala em cima pois não é permitido abrir o porta malas fora do ponto final.

Assim que descer do ônibus torne a andar os 5,5 km que separam a rodovia da fazenda. Com um pouco de sorte conseguirá uma carona até o início da trilha.

Ao chegar na fazenda é preciso pagar R$ 15,00 antes de iniciar a trilha

  • Volta

Eu estava tenso na ida pois não sabia se o motorista iria deixar eu descer no km 46, mas a tensão pela incerteza da volta era muito maior. Pensava que após descer do pico no domingo poderia não conseguir carona até a rodovia e muito menos até Curitiba.

Também não sabia se os ônibus para São Paulo ou para Registro parariam na rodovia pra mim. Liguei nas companhias que fazem o trecho e elas me confirmaram que só era possível entrar no ônibus em Curitiba mesmo.

Hoje, após ter tido sucesso na empreitada, te garanto que conseguirá carona direto da fazenda para Curitiba em função do grande volume de visitantes no parque. Mas claro, precisará usar a boca, a simpatia e o carisma.

Não recomendo que compre a passagem de volta com antecedência, porque é difícil estimar o horário que você chegará em Curitiba, uma vez que há muitas variáveis envolvidas. Entretanto, por ter comprado as passagens de retorno somente ao chegar na Rodoviária de Curitiba, quase fiquei sem passagem de volta pra São Paulo. Vai de cada um decidir o que acha melhor.

Se você não quiser pegar carona você tem que ir com seu carro ou contratar um tour (não encontrei informações de agências que fazem este passeio saindo de São Paulo).

Por fim, pegue qualquer ônibus de Curitiba pra São Paulo no domingo à tarde.


QUANDO IR

Bem como a maioria das trilhas de montanha do sul/sudeste do Brasil, a melhor época para se visitar o Pico Paraná é no outono/inverno, de abril a agosto, período de menor índices pluviométricos. Isto porque a trilha é muito perigosa, com muitos trechos de escalaminhada em rocha, e fazê-la com chuva e barro seria um desafio e tanto.


O QUE LEVAR

Sempre apoio a ideia de levar o mínimo de peso possível em trilhas montanhosas, porém, como vamos acampar e o frio no topo do Pico Paraná pode ser bem alto no inverno, não tem como fugir de diversos itens básicos:

No corpo:

  • Uma cueca ou calcinha confortável
  • Um par de meias grossas
  • Uma camiseta de manga comprida
  • Uma calça pra trekking
  • Um par de botas pra trekking
  • Um par de luvas
  • Um boné/chapéu

Nas costas:

  • Mochila semi-cargueira de 45 L
  • Barraca de 2,2 kgs
  • Saco de dormir pra -9ºC conforto. Mas não precisa ser tanto. Um 0ºC já atende… Vai depender do seu potencial de sentir frio
  • Isolante. Sempre recomendo inflável ou auto-inflavel
  • Segunda pele camiseta e calça
  • Blusa de fleece. Os mais friorentos podem levar calça de fleece também
  • Travesseiro inflável
  • Lanterna
  • 4-5 L de água
  • Purificador de água (Hidrosteril ou Clor-In)
  • Comida fria (basicamente rap10 e barra de cereal). Poupe peso de panelas. É só uma noite mesmo.

RESUMO DE GASTOS (2016):

  • Ônibus ida e volta SP -> Curitiba: R$ 190
  • Entrada fazenda: R$ 15 por pessoa
  • Comida para trilha: R$ 50
  • Prato Feito + refri na fazenda no domingo: 15
  • Almoço em Curitiba no domingo: R$ 27
  • Duas paradas no GRAAL: R$ 30
  • Total: R$ 330,00

O RELATO

Ida ao Terminal Rodoviário de São Paulo

Saí do trabalho às 17 na sexta-feira, fui preparar a mala, saí de casa às 23 e cheguei na Rodoviária do Tietê à meia-noite.


Sábado – De SP ao Topo do Pico

Entrei no bus das 00:20, que só partiu às 00:40 na madruga do sábado.

Falei pro motorista me dar um toque no km 46, que era onde eu ia descer, mas ele falou que eu que deveria avisá-lo.

Isso me deixou tenso e com medo de perder a parada. Então coloquei o despertador para às 05:15. Quando acordei às 05:20 fiquei aliviado que ainda não tínhamos passado do 46.

Logo depois da Ponte do Rio Tucum desci às 05:40 na Régis ao lado de uma placa de ponto de ônibus. Em meio àquela escuridão e movimentos intensos de caminhões entrei na estradinha de terra bem ao lado do ponto, a qual passa sob a ponte e segue para a Fazenda Pico Paraná.

Acesso trilha

Após menos de 500 m caminhados, três carros passaram por mim oferecendo carona, sendo que eu nem pedi. Galera montanheira gente boa.

Em 5,5 km chegaríamos na fazenda e pra minha surpresa já havia uns 20 carros estacionados. Claro que nem todas as pessoas iam subir o Pico Paraná, mas não espere que essa seja uma trilha deserta.

Deixei 15 reais na mão de um senhor que estava com uma ficha de controle dos turistas para o caso de ocorrer algum problema na trilha.

Fiz o cadastro e finalmente, às 07:00, iniciei a caminhada rumo ao cume do Pico Paraná.

Os primeiros 3 km são uma subida com vegetação de médio porte que possui inclinação baixa, porém constante até o Getúlio, somando um desnível total de 500 m. O trecho é bem sinalizado com fitas brancas e cordas. O Getulio é um belo mirante de onde se pode ver a represa Capivari e a Fazenda Pico Paraná, além de um panorama das montanhas da Serra do Mar.

Mirante do Getúlio
Vista do Mirante do Getúlio e da Represa Capivari

Aqui a vegetação é menos robusta e segue em terreno plano por 500 m até encontrar uma área de acampamento que possui uma bifurcação. Vire à esquerda.

A partir daqui o caminho torna a subir, passa pelo principal ponto de água da trilha (os seguintes são de água fraca), até encontrar o Jardim Encantado cerca de 1 km dali.

O Jardim Encantado é um trecho incrível de mata atlântica com diversos troncos e raízes que atravessam a trilha e criam diversos obstáculos.

Jardim Encantado
O incrível Jardim Encantado

Ele se estende por cerca de 500 m até que a mata abre e surge a primeira vista do foco do passeio, o imponente Pico Paraná. Daqui também surgem as primeiras vistas da baixada e da Baía de Paranaguá.

Pico Paraná
Primeira vista do Pico Paraná

Torna-se a caminhar pela mata densa por 500 m até encontrar outra ótima área para camping.

Vire à direita aqui. Há um caminho reto pra uma descidona que eu quase segui erroneamente.

Neste ponto se está na cota 1570 msnm e inicia uma descida de cerca de 100 metros de desnível. Pois é, uma descida… não é exatamente o que procuramos neste momento.

Pico Paraná
O majestoso Pico Paraná

Após essa descidinha começa uma nova trilha. Aqui inicia a subida incessante até o cume do pico que se estende por 2 km e acumula um desnível de 400 m.

Na subida há diversos trechos bem expostos com pequenas vias ferratas e cordas nos trechos de rocha muito inclinados (> 60º). Mas na maior parte da subida o caminho se dá por trilha mesmo.

Trecho exposto
Um dos trechos mais perigosos da trilha

A medida que se sobe, o panorama da Serra do Mar e do próprio pico se torna cada vez mais incrível.

A 40 minutos do topo se passa pelo maior acampamento da trilha, o Abrigo 2, que também coincide com o último ponto d’água antes do cume.

Os metros finais da subida seguem por uma bela crista. Não se engane pelo cume falso que aparece, já que o verdadeiro pico esta atrás deste.

Falso cume e real cume
Falso cume e real cume

Após um trepa pedra bem divertido e cansativo se alcança o cume do falso pico, onde há uma boa área pra acampar. Neste momento o cansaço parece ir embora ao se contemplar o lindo paredão que separa você do cume final.

Vista do Cume do Pico Paraná
Paredão da última investida até o cume real do Pico Paraná

Mais 10 minutos de escalaminhada e finalmente, depois de quase 6 horas de trekking cheguei no ponto mais alto do sul do Brasil.

Já passava das 13 horas e só havia espaço para uma barraca no cume. Achei um canto e já montei a minha rapidinho para aí sim poder relaxar e curtir o visual.

O topo do pico não apresenta uma única visão 360, mas de um lado se tem a vista de toda a Baía de Paranaguá e do outro se pode contemplar todos os picos da fantástica serra do mar paranaense. Também dá pra ver todo o caminho percorrido pra chegar no cume. O visual é realmente único!!

Panorama da Serra do Mar
Vista 180º da Serra do Mar paranaense

Fiz um sobrevôo de drone contornando os 4 lados da montanha e mostrando a crista que percorremos pra atingir o cume.

Vista Aérea da trilha
Vista aérea. Dá pra ver o cume do Pico Paraná, o falso cume e toda a crista da trilha
Vista Aérea Cume
Vista aérea do Pico Paraná

Durante toda a subida você encontra dezenas de pessoas fazendo a trilha e aqui no cume todo mundo se reuniu pra admirar a paisagem. Se você está viajando sozinho aconselho que faça amigos, pois ia ser muito entediante ficar sozinho das 13 até a hora de dormir.

Não se esqueça, também, que se você está fazendo o mesmo roteiro que eu, de sair de São Paulo para o pico somente num fim de semana e sem carro, você precisará de uma carona pra Curitiba. Então você pode ir esquematizando isso aqui no cume ao invés de pedir na rodovia.

Como não poderia ser diferente pra quem está aberto a novas amizades, logo na subida conheci um grupo de 5 trekkers muito gente fina: Rodrigo, Ramiro, Pedro, Tirdo e Guto. Lá no topo passamos boa parte do tempo dividindo experiências e dando risadas.

Pra minha sorte eles mesmos me ofereceram carona pra Curitiba e ainda me chamaram pra almoçar no dia seguinte. Eu aceitei mas avisei que estava com o joelho meio ruim e que só iria se conseguisse acompanhá-los na descida.

O tempo passou e o sol iniciou seu percurso por detrás da serra, criando um panorama de cores sem igual. Fiquei deitado na pedra admirando o visual até as luzes de Curitiba acenderem e o céu ficar completamente preto. Tava estático de contemplação.

Pôr-do-Sol
Pôr-do-Sol surreal por detrás das montanhas da Serra do Mar

Depois fui papear um pouco e tomar um vinho com meus parceiros.

Finalmente fui deitar, por volta das 19:00, e quando comecei a dormir acordei com um chamado: “Ô paulista! Vem ver a lua!”

E ela estava nascendo bem na direção da porta da minha barraca, toda vermelhona. Um espetáculo!

Lua
Foto ruim e pouco representativa da lua insana hahah

E voltei a dormir…


Domingo – Do Pico a Curitiba e São Paulo

Acordei às 05:20 no domingo e consegui dormir 10 horas pra compensar as menos de 4 horas dormidas no ônibus da ida.

O céu começou a alaranjar e já corri pra desarmar a barraca e fazer a mala, já que não queria ficar pronto depois dos meus companheiros.

O nascer do sol estava chamando e eu estava no camarote. Ia me aprontando e tirando fotos alternadamente.

O amanhecer foi muito belo, apesar que uma faixa cinza de umidade no horizonte impediu que desse pra ver a grande bola vermelha surgindo, mas a paisagem alaranjada estava linda. A vista da baixada pela manhã é incrível, mesmo que as nuvens não tornassem possível ver o mar.

Nascer do Sol
O nascer do sol

Fiquei pronto pra descer às 07:00 quando o sol, já amarelo, deixava a manhã mais clara. Coincidentemente, os 5 parceiros ficaram prontos na mesma hora.

Mar de Nuvens
Eu avistando a Serra do Mar e o incrível mar de nuvens

Na hora de descer de fato foi difícil acompanhar o ritmo deles. O joelho começou a chorar e os avisei pra me largarem pra trás caso eu não desse conta. Mas em pouco tempo consegui engrenar num ritmo e segui firme na companhia deles pelo mesmo caminho da subida, desta vez cruzando com dezenas de pessoas que partiam para a ascensão de domingo.

Do nosso grupo (agora eu tava em um hahah), dois chegaram de volta na Fazenda Pico Paraná em 3:30 horas e eu e mais três descemos em 4:00.

Fim da trilha, mas não fim do relato.

Lá na fazenda servem pastel, prato feito, refri e cerveja. Bati um PF de linguiça com uma coca e partimos em direção a Curitiba.

3 deles moravam na zona metropolitana e fomos deixando um por um até que sobrei com os dois irmãos Rodrigo e Ramiro, que moravam na capital. Os caras eram tão gente fina que me chamaram pra almoçar na casa deles e depois ainda me deixaram no terminal rodoviário de Curitiba.

Cheguei na rodoviária às 16 e, por sorte, tinha um único assento livre no ônibus das 16:15.

O tráfego intenso em alguns trechos da BR-116 fez com que eu chegasse no Terminal de Tietê às 23:40 e em casa às 00:30. Fui dormir às 2 da manhã para acordar tranquiiiiilo pra trabalhar às 7.

Essa foi a trip do Pico Paraná na incrível Serra do Mar paranaense com logística insana. Ir sozinho é mais caro por causa dos preços das passagens de ônibus, mas garante a certeza de histórias surpreendentes. Provavelmente eu não teria conhecido pessoas tão bacanas se tivesse viajado acompanhado.

Pico Paraná

Abraços!!

  1. Joao R. Tosin Joao R. Tosin

    Cara, que relato completo! Curti demais, parabéns! Nos encontraremos em alguma trilha por ai!

    • VictorPrates VictorPrates

      Que bom que gostou, amigo. Nos vemos em algum lugar desse Brasilzão 🙂

  2. Luis Luis

    Sensacional o relato amigo. Passou a emoção de estar lá em cima. Valeu!

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