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O Majestoso Grand Canyon

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Um relato completo sobre um dos trekkings mais sensacionais que fiz na vida

INTRO

O Grand Canyon é um espetáculo da natureza e não consigo pensar em algo mais bonito em todo o planeta. Ele possui 446 km de comprimento por 29 km de largura e uma profundidade de até 1.900 metros! Sua formação teve início há cerca de 5 milhões de anos em função da atividade erosiva do Rio Colorado.

O Grand Canyon National Park é um verdadeiro paraíso para a prática de inúmeras atividades, como: sobrevoo de helicóptero, rafting no Rio Colorado, dirigir por estradas cênicas do seu entorno, fazer passeios de mula ou de bike e até salto de paraquedas sobre o cânion dá pra fazer. Eu não fiz nenhuma destas, pois o que de fato me interessava era explorá-lo através de um bom e velho trekking.

Neste relato vou te mostrar como aproveitar o melhor das trilhas do parque do Grand Canyon, no Arizona, Estados Unidos.

Ele ficou em 1º (obviamente) no meu ranking com os 20 melhores lugares do sudoeste dos EUA. Se quiser dar uma olhada na lista completa, acesse o post 20 Lugares Incríveis do Sudoeste dos EUA.

Essa foi apenas uma etapa da viagem de 1 mês que fiz na região com meu irmão Ivan e a Anna, minha cunhadinha. Para mais informações sobre o país, clica no link Guia do Sudoeste dos EUA.


COMO CHEGAR

Como o Grand Canyon é muito gigante, há diversos pontos de acesso distintos:

  • South Rim: esta é a área de maior visitação do parque e o foco deste relato. Ela está situada na vila Grand Canyon Village, a qual está 440 km a leste de Las Vegas e 360 km a norte de Phoenix, capital do Arizona;
  • North Rim: o acesso se dá pela vila de Jacob Lake, a qual está a 360 km a leste de Vegas. Próximo à porção norte do cânion também está a famosa The Wave;
  • Grand Canyon West: localizado a 208 km a leste de Las Vegas, este é o ponto para quem quer curtir o Grand Canyon SkyWalk, uma ponte de vidro que mostra belas vistas do cânion;
  • Marble Canyon: a porção nordeste do cânion possui lindas atrações como a Horseshoe Bend, o Antelope Canyon e o Marble Canyon.

Na nossa viagem pelos EUA, alugamos um carro em Las Vegas e dirigimos por menos de 5 horas por excelentes rodovias (como todas do país) até chegar na Grand Canyon Village. Para ir ao South Rim, utiliza-se as vias Interstate 11, AZ State Route 93, Interstate 40 e AZ State Route 64. Ainda fizemos um desvio pela famosa Route 66.

Placa do carro do nosso Dodge Avenger em 2012. Cada estado tem suas respectivas placas personalizadas
Placa do carro do nosso Dodge Avenger em 2012. Cada estado tem suas respectivas placas personalizadas

Se a ideia for pagar por um serviço de transporte desde Las Vegas, existem as vans oferecidas pela One Day Tours. Se o intuito for se deslocar do South Rim ao North Rim, quem oferece este trecho é a companhia Trans-Canyon Shuttle. Ainda existe a opção de fazer uma viagem de trem ao South Rim desde Williams, Arizona, como você pode ver neste link.

Veja abaixo um mapa com todas as cidades acima citadas e com os pontos de acesso ao Grand Canyon:


QUANDO IR

A melhor época para visitar o Grand Canyon é de março a maio e de setembro a novembro, nas temperaturas amenas de outono e primavera e quando o turismo no país é menos intenso.

Estivemos na região no verão americano, em agosto, e as temperaturas estavam muito, mas muito elevadas. Não recomendo pra ninguém se o intuito for fazer trilhas. Inclusive, o próprio parque nacional coloca várias placas informando sobre os riscos reais de overheating, ou superaquecimento, para quem se aventura no cânion no verão. A gente até zombou dizendo que eram exagerados, mas paramos de rir quando passamos mal de verdade na trilha (mais detalhes na sequência do relato).

Algo importante pra se levar em consideração é que a temperatura na parte mais elevada do Grand Canyon estava 28ºC, ao mesmo tempo em que fazia 40ºC no seu fundo. Isto porque, além de haver uma diferença de mais de 1.500 metros de desnível, as suas paredes são mais inclinadas na porção mais baixa do cânion, o que dificulta a circulação dos ventos. Fica um verdadeiro forno lá embaixo.

Há neve no parque durante o inverno, o que deve tornar a paisagem fenomenal nesta época do ano, mesmo que dificulte e até impossibilite a realização de algumas trilhas. Por conta das condições climáticas, o North Rim só abre de maio a outubro. Fiquei bem surpreso de saber que há neve no Grand Canyon.


GASTOS

Hospedagem: a gente se hospedou em um hotel na via AZ State Route 64, a 46 km a sul da portaria do parque nacional, chamado Grand Canyon Inn, que custa cerca de 100 dólares a pernoite para 3 pessoas (valor 2020). Se preferir, você pode se hospedar nos hotéis da Grand Canyon Village ou em Tusayan, mas os preços são mais elevados e podem custar de 2 a 4 vezes mais do que pagamos. Caso você queira fazer muito trekking, no fundo do cânion há algumas áreas de camping e um hotel chamado Phantom Ranch. Para estas opções, no entanto, é preciso fazer reserva com muitos meses de antecedência (ou até 1 ano para o hotel), visto que o turismo na região é bastante intenso. Acesse os links em destaque para fazer sua reserva no Phantom Ranch ou nas áreas de acampamento do Grand Canyon.

Ingresso: a entrada no parque custa 30 dólares por carro para 7 dias, mas compensa comprar o passe America the Beautiful Pass, ao custo de 80 dólares. Deste modo, você pode acessar todos os parques nacionais dos EUA quantas vezes quiser pelo período de 1 ano.

Alimentação: para comer, qualquer refeição do restaurante mais barato vai custar entre 15 e 20 dólares, infelizmente. É difícil ser mochileiro neste país. É aconselhável viajar acompanhado pra dividir custos de hospedagem e de transporte. Caso consiga juntar de 3 a 5 pessoas, os custos do carro alugado podem ser inferiores aos custos de transporte por vans e ônibus.

Transporte: os gastos mais expressivos foram para alugar um carro. O aluguel da versão econômica pode custar de 1.000 a 1.500 dólares por mês, a depender da época da sua viagem. No verão, o valor do seguro do carro é maior, pois no calor as rodas podem estourar com o asfalto quente, apesar do risco ser bem baixo.


SHUTTLE BUS

Há estacionamentos no centro de visitantes e no pé das trilhas para o Grand Canyon, mas se você estiver sem carro existe um sistema gratuito de transportes que funciona super bem pra quem gosta de aproveitar uma caminhada.

Segue o mapa com o trajeto e os pontos de ônibus do South Rim. Em vermelho estão indicados o Centro de Visitantes e o início da trilha que realizamos até o fundo do cânion, a South Kaibab Trail:

Retirado de ontheworldmap.com
Retirado de ontheworldmap.com

Se quiser mais informações sobre o sistema de transporte do interior do parque, acesse a página do serviço nacional de parques dos EUA no link nps.gov.


O QUE LEVAR

Seguem abaixo os itens necessários caso você queira fazer 1 dia de trilhas até o fundo do Grand Canyon. Se quiser passar vários dias acampando, obviamente será necessário levar uma mochila grande, barraca, saco de dormir e comida para vários dias. Leve consigo um casaquinho caso vá em estações mais frias:

  • Mochila de ataque. Fiz a trilha com uma mochila de 20 litros. Leve somente o essencial porque a subida é muito desgastante;
  • Calçado de trekking. Qualquer bota ou tênis para trilhas;
  • Comida para trilha. Passamos o dia comendo snacks como amendoins, barras de cereal e uns sanduichinhos;
  • Água. De 3 a 5 litros. Talvez uns isotônicos também;
  • Lanterna. É sempre bom ter;
  • Protetor Solar. Item obrigatório.

O QUE FAZER

Ivan, Anna e eu passamos apenas 2 dias no Grand Canyon. Não foi muito tempo, mas foi o suficiente pra mergulhar com intensidade nas suas belezas. Veja a seguir, um detalhe dos lugares que visitamos e ao final deixei um brinde com outras atrações que você não pode perder!

Grand Canyon South Rim
Grand Canyon South Rim

Dia 1 – Rim Trail

No nosso primeiro dia, dirigimos desde Las Vegas até alcançar o centro de visitantes do Grand Canyon, onde é possível conhecer toda a história do parque e a geologia da região. Existe uma trilha curta na parte alta dele, chamada Rim Trail, onde você passa por vários mirantes com panoramas fenomenais do cânion, como o Mather Point e o Yavavai Point. Ela possui acessibilidade e cerca de 2 km de extensão.

O imponente Grand Canyon visto do Visitor Center
O imponente Grand Canyon visto do Visitor Center
Eu no Mather Point
Eu no Mather Point

Dia 2 – South Kaibab Trail

Se você gostar de um trekking intenso, é possível caminhar até o fundo do cânion e chegar ao Rio Colorado através das trilhas Bright Angel e South Kaibab. Elas possuem 15,9 km e 11,4 km só de ida, respectivamente. Nós fizemos a segunda e foi uma super experiência de contemplação de cenários simplesmente inacreditáveis, mas que também trouxe um desgaste físico extremo.

A South Kaibab Trailhead, ponto que marca o início da trilha, se encontra a cerca de 3,7 km a leste do centro de visitantes do parque. Nós dirigimos com nosso Dodge Avenger até lá, mas se preferir há ônibus do parque que percorrem este trecho, como já informado no item SHUTTLE BUS.

Chegamos no estacionamento às 7h e recomendo que não inicie a trilha muito depois disso, caso queira descer até o Rio Colorado e subir de volta no mesmo dia. Se você mandar bem na caminhada, serão gastas de 8 a 9 horas no total, sem contar os vários momentos de descanso que são necessários.

A Descida

Começamos nossa jornada junto com o sol e foi uma delícia andar sob um clima ameno e contemplar as feições do cânion com a luz avermelhada da manhã. A região é bem seca e a vegetação bem pouco robusta, o que possibilita ter vistas da paisagem o tempo todo.

Ivan e Anna na South Kaibab Trail de manhãzinha
Ivan e Anna na South Kaibab Trail de manhãzinha

O caminho se dá por trilha super bem demarcada e, portanto, é muito difícil se perder. Mas por via das dúvidas leve um tracklog no seu aplicativo de GPS do celular. Segue o link com o track da nossa aventura.

Uma coisa curiosa neste trekking é que ele não consiste em um percurso sem graça com uma recompensa no final, como uma praia, uma cachoeira ou o topo de uma montanha. Aqui você já começa com aquele visual insano do topo do Grand Canyon e que permanece fenomenal a cada passo dado. Eu amei poder contemplar aquela maravilha da geologia de todos os ângulos possíveis.

Trecho da trilha
Trecho da trilha

Para chegar na base do Grand Canyon é preciso caminhar por duas seções principais:

  1. A porção que configura os primeiros 1.000 metros de desnível são formados essencialmente por rochas sedimentares, como arenitos, calcários e folhelhos. Nesta parte são percorridos cerca de 7 km;
  2. Na sequência, surge o trecho com rochas do embasamento cristalino, como granitos e xistos, formados há quase 2 bilhões de anos (Fonte: USGS). Estas rochas são mais resistentes à erosão e, portanto, aqui as paredes do cânion são mais inclinadas, como já mencionado no item QUANDO IR. Nesta perna final, são caminhados 4 km num desnível acumulado de aproximadamente 450 metros.

Após descer a última parte, alcançamos o famigerado Rio Colorado, onde é preciso atravessar a ponte Black Suspension Bridge antes de entrar no Bright Angel Canyon.

Eu, o Rio Colorado e a porção final da trilha South Kaibab. O hotel Phantom Ranch está no interior do cânion Bright Angel, o qual está situado na área vegetada no canto inferior direito da foto.
Eu, o Rio Colorado e a porção final da trilha South Kaibab. O hotel Phantom Ranch está no interior do cânion Bright Angel, o qual está situado na área vegetada no canto inferior direito da foto.
Eu no Rio Colorado. Pensa numa água gelada!
Eu no Rio Colorado. Pensa numa água gelada!

Enfim chegamos no Phantom Ranch por volta das 10h30, super maravilhados com os visuais incríveis do trekking e realizados por termos conseguido efetuá-lo.

Antes de vir ao Grand Canyon não tínhamos muita ideia de como seria para explorá-lo e ficamos com um certo medinho quando os funcionários do parque nos alertaram sobre os perigos de trilhar na região, principalmente no calor do verão.

É importante ressaltar que lá embaixo existe uma bomba para extrair água do aquífero, que foi essencial pra impedir que ficássemos desidratados. Tínhamos comprado mais de 4L por pessoa que ainda assim não foram suficientes. A bombinha nos salvou.

Anna e Ivan no Phantom Ranch, o hotelzinho do Grand Canyon
Anna e Ivan no Phantom Ranch, o hotelzinho do Grand Canyon

Como chegamos cedo e o sol estava se pondo depois das 20h, resolvemos passar bastante tempo lá embaixo para descansar. Ficamos um tempão no riozinho afluente do Colorado e até dormimos por umas horas nuns banquinhos que havia por lá.

Às 15h retomamos a caminhada e preparamos o coração e os joelhos pra subir os 1.500 metros de desnível que havíamos descido.

A Subida

E foi neste momento que começou o verdadeiro perrengue. Não sei se você se lembra, mas falei no item QUANDO IR que as temperaturas na parte inferior do Grand Canyon podem atingir os 40ºC no verão. E não deu outra. O início da subida, pela parte mais inclinada do cânion, foi extremamente desgastante. O calor era sufocante, não havia nada de vento e o sol batendo nas nossas nucas com toda a intensidade também não ajudava. Sentimos na pele os primeiros sinais do overheating que os rangers do parque tinham nos falado.

Por isso, volto a frisar que não faça essa trilha nos meses de julho e agosto, pois o calor é mais do que tremendo. O que nos salvou de passar mal de verdade foi que após cerca de 1 hora sob estas condições as nuvens tamparam o sol, o que deu uma amenizada importante no calor. Salvos pelo gongo…

Quando terminamos este trecho e chegamos na parte mais aberta do cânion, as temperaturas já estavam mais amenas e havia um ventinho bem saboroso, pra alegrar nossos corações. Fizemos um super descanso numa casinha de madeira misteriosa, onde pudemos repor nossas energias.

O momento do alívio
O momento do alívio

Apesar do descanso, ainda tínhamos um longo chão pra subir. Estávamos completamente exaustos mesmo com a pausa que demos lá embaixo, pois já se aproximava das 17h e havíamos começado a caminhar às 7h. Em função disso, a volta foi bem mais lenta. Se havíamos descido em 3h30min, a subida se deu em mais de 5 horas.

E seguimos lentamente, contemplando aquele cenário surreal e tirando muitas fotos.

Vanzão galã curtindo um entardecer
Vanzão galã curtindo um entardecer

Quando estávamos próximo do topo do cânion, lembro que eu já não tinha mais joelhos e andava os segurando com as mãos a cada passo. Fiquei mais de 1 mês com eles doloridos depois dessa trilha. Nunca se esqueça que esse trekking é nível hard até pra quem está acostumado com caminhadas em montanha.

Pra completar nossa linda jornada, fomos presenteados com um pôr do sol espetacular. Foi mais do que perfeito ver aquele cenário durante a golden hour.

Pôr do sol no Grand Canyon!
Pôr do sol no Grand Canyon!

Chegamos no nosso carro por volta das 20h, extremamente eufóricos e destruídos. Foi sem dúvida um daqueles dias inesquecíveis da vida.


Algumas Outras Atrações

  • Bright Angel Trail: é a trilha mais famosa do Grand Canyon pra quem quer descer ao Rio Colorado. Apesar de ser mais longa que a South Kaibab, nela você encontra banheiros e pontos para abastecer água no caminho. Também é possível fazê-la com mulas. O usuário ecmwl do Wikiloc realizou ambas as trilhas em apenas um percurso, como você pode ver neste link;
  • Havasu Falls: fabulosa cachoeira de coloração turquesa, cujo acesso é super complicado. É necessário dirigir à vila de Peach Springs, depois até Hualapai Hilltop e por fim caminhar mais 20 km só pra chegar nela. Dá um Google nesta cachoeira. Meu sonho é conhecê-la;
  • North Rim e Marble Canyon: como já mencionado no item COMO CHEGAR, a norte/nordeste do Grand Canyon National Park estão feições geológicas incríveis, como a The Wave, os Vermillions Cliffs, o Antelope Canyon e o famoso Horseshoe Bend. Dê uma olhada neste guia caso tenha interesse nesta região;
  • Rim-to-Rim Hike: quando chegamos no Phantom Ranch descobrimos que havia a possibilidade de caminhar até ele pelo North Rim também. A Rim-to-Rim Hike consiste em andar 42 km do South Rim (pode ser pela South Kaibab ou Bright Angel) até o centro de visitantes do norte do parque, passando pelo Rio Colorado. O usuário foretown do Wikiloc fez esse percurso, como mostra este link;
  • Grand Canyon Skywalk: se você não for do tipo de se aventurar por trilhas pesadas, é possível dirigir até este mirante e contemplar o cânion através da ponte de vidro Grand Canyon Skywalk;
  • Helicóptero: outra opção para quem não pratica trekking é contratar um tour de helicóptero para sobrevoar as belezas da região. Há vôos desde Las Vegas ou do South Rim, em Tusayan. Acesse este link para mais informações;
  • Rafting: uma forma bem divertida de conhecer o cânion por outro ângulo é através do rafting pelo Rio Colorado. Para mais informações, cheque este link;
  • Desert View Drive: para os entusiastas de uma boa road trip, a Desert View é uma estrada cênica que tem início na Grand Canyon Village, no South Rim, e segue paralela ao cânion por 40 km até a vila de Cameron.

PRA FECHAR

O sudoeste dos Estados Unidos revela belezas naturais descomunais. Sugiro muito que conheça a região sem focar somente em ir para as cidades grandes fazer compras e explore ao máximo os monumentais parques nacionais da região.

Se quiser saber um pouco mais de outros lugares que visitei nesta viagem, dê uma olhada nos relatos do Zion Canyon, do Yosemite e do Grand Staircase-Escalante.

Obrigado pela leitura!

Um abraço!

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