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Trekking em El Cocuy, o lugar mais bonito da Colômbia

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Como se deslocar até o remoto Parque Nacional El Cocuy e explorar o melhor dos Andes colombianos

INTRO

Não sei se você sabe, mas a Cordilheira dos Andes se divide em três na Colômbia. Após fazer trekking nos Andes Ocidentais (Pico de Loro) e Centrais (Nevado del Tolima), parti agora para os Andes Orientais.

O Parque Nacional Natural El Cocuy, situado no departamento Boyacá, apresenta uma beleza cênica incomparável no país. Ele serve de proteção para florestas de altitude e ao páramo, um importante ecossistema andino.

No parque você encontrará a Sierra Nevada, uma impressionante cadeia de montanhas nevadas perfeitas para os amantes de trekking. Eu amei que a área é bem pouco explorada por turistas e quase não encontrei visitantes.

Entretanto, há três empecilhos principais para a sua visitação:

  • O deslocamento até a vila de El Cocuy é longo. Desde Bogotá, são necessários dois ônibus que vão totalizar um mínimo de 10 horas de viagem;
  • A necessidade de se fazer exaustivas caminhadas de cerca de 10 horas de duração por dia, com trechos que excedem os 4.000 metros de altitude;
  • Os preços dos passeios não são exatamente uma pechincha. Espere gastar cerca de 120.000 a 200.000 pesos colombianos (R$ 130 a 220) por dia entre ingresso no parque, transporte ao pé das trilhas, guia (obrigatório), hospedagem e alimentação.

Mesmo com tudo isso, vou te falar que vale, ô se vale a pena. Afinal, foram as paisagens mais lindas que contemplei na Colômbia!

Meus dias por El Cocuy foram só uma pequena parte do meu mochilão de 3 meses pelo país. Se quiser saber mais, dá uma olhada no Guia Turístico Completo da Colômbia e no Mochilão de 90 Dias pela Colômbia.

Para os preços indicados em pesos colombianos neste post, considere que quando fui ao país R$ 1,00 valia 900 COP (Ex.: 9.000 pesos = R$ 10,00).


COMO CHEGAR

Tem duas cidadezinhas que servem de apoio para conhecer o Parque Nacional El Cocuy: Güicán e El Cocuy. Ambas possuem estrutura de hotéis, restaurantes e agências do parque para você fechar sua viagem.

Para ir até elas, é necessário pegar um ônibus de Bogotá a Tunja e outro a El Cocuy. Como eu tinha tempo, eu saí de Bogotá e passei por Zipaquirá e Villa de Leyva antes de ir a Tunja, duas cidadezinhas que também compensam muito dar uma passada.

O mapa abaixo mostra as localidades acima mencionadas (observe Bogotá no canto inferior esquerdo):

Eu não visitei Güicán para dizer com precisão qual serve melhor de base para o turismo na região. Só posso dizer que ela é menor que El Cocuy, porém um pouco mais próxima à entrada do parque nacional.

Eu optei por El Cocuy e a vila, que é super simpática, me atendeu perfeitamente. Também acredito que nela seja mais fácil encontrar grupos para rachar os custos dos passeios.

O ar bucólico da vila de El Cocuy
O ar bucólico da vila de El Cocuy

QUANDO IR

Por estar próximo à linha do Equador, as estações da Colômbia não são muito bem marcadas, então, o Parque El Cocuy pode ser visitado o ano todo.

Vale ressaltar, no entanto, que os meses de menos chuva e ideais para montanhismo são de dezembro a março e de julho a agosto.

Eu fui em março, fiquei dois dias no parque e vivi dois opostos: no primeiro dia o céu estava completamente nublado e no segundo não havia uma nuvem no céu. Não podemos esquecer que a natureza é sempre imprevisível.


POR CONTA OU COM GUIA

Como já mencionado na INTRO, não há a opção de caminhar dentro do parque sem guia.

Todos são obrigados a passar numa estação do parque nacional, seja em Güicán ou El Cocuy, e contratar serviços de guiada e transporte para chegar ao pé das trilhas.

Também é preciso pagar a taxa salgada de 61.000 pesos de ingresso ao parque e mais 7.000 por dia de seguro. E não, o seu seguro viagem não o substituirá. Ainda tem que pagar o seguro diário do guia, que pode ser dividido entre os participantes do grupo.

Eu fiz os passeios com o guia Pablo. Se quiser agendar os passeios com antecedência e pedir pra ele cuidar dos trâmites, basta entrar em contato pelo seu telefone: (+57) 320-410-8377.


O QUE FAZER NO PARQUE

Apesar da vila de El Cocuy ser bem agradável, eu não creio que compensa deslocar-se até aqui se não for pra fazer trekking dentro do parque. É o único jeito de aproveitar o melhor que ele tem a oferecer.

Existem 3 trilhas que podem ser realizadas: Pulpito del Diablo, Laguna Grande e Ritacuba. Eu fiz só as duas primeiras, mas a logística é melhor se você fechar um grupo pra fazer as 3 de uma vez.

Sei que está meio difícil de visualizar, mas abuse do zoom e namore este mapa, porque aí mostra todos os picos e trilhas do Parque El Cocuy
Sei que está meio difícil de visualizar, mas abuse do zoom e namore este mapa, porque aí mostra todos os picos e trilhas do Parque El Cocuy

Vou explicar como fica o roteiro de montanhismo de 2 ou 3 dias, saindo da cidade de El Cocuy:

  • 1º Dia: Transporte de jipe ao pé da trilha para o Púlpito del Diablo, 9 horas de caminhada ida e volta e deslocamento à Fazenda La Esperanza, a base para as trilhas do parque;
  • 2º Dia: 9 horas de caminhada ida e volta da fazenda até a Laguna Grande de la Sierra. Quem optar por fazer apenas 2 dias, regressará a El Cocuy de jipe ou de moto. Quem ficar, dorme mais uma noite na Esperanza;
  • 3º Dia: Para os que optarem pelo último dia, há um deslocamento até a base da trilha para o Ritacuba Blanco, a montanha mais alta do parque. São cerca de 7 horas de trilha ida e volta até a base do pico e na sequência o jipe leva o grupo de volta ao povoado de El Cocuy.

OBS.: No passado havia outras trilhas, inclusive um circuito insano de 6 dias que contornava as montanhas do parque, mas que estão fechadas por desacordos com a comunidade indígena que vive na região. Dá uma olhada no que a gente tá perdendo no post The Fabulous 6 Day Sierra Nevada del Cocuy Trek do blog Hike Bike Travel.

Aconselho que entre no site do Parque El Cocuy para ver quais trilhas estão disponíveis antes de visitá-lo. O contato do parque nacional é:


RESUMO DE GASTOS

Existem muitas variáveis a serem consideradas quanto aos custos para trilhar no Parque El Cocuy:

  • Seguro do guia: como explicado anteriormente, a taxa de 61.000 para ingressar no parque é fixa, porém há que pagar 7.000 pesos do seu seguro + 7.000 do seguro do guia para cada dia de passeio. Se for sozinho, você terá que pagar 14.000 pesos, mas se o compartilhar com 4 pessoas, por exemplo, cada um terá que pagar 7.000 + 1.400 por dia de trilha;
  • Diária do guia: esta é fixa em 130.000 pesos para o grupo, então num grupo de 5 você gastaria 32.000 por dia e se for sozinho você já sabe;
  • Transporte: para as trilhas ao Púlpito e à Laguna, cada dia de transporte custa 80.000 pesos, enquanto para o Ritacuba são cobrados 180.000 adicionais;
  • Hospedagem e Alimentação: Estas não são influenciadas pelo número de pessoas no grupo e sim pela quantidade de dias de trilha que você quiser fazer no parque. A Fazenda La Esperanza serve de base para o trekking na região e cobra 40.000 por noite com café da manhã incluso + 15.000 por jantar.

Eu fui com um grupo de 5 pessoas e realizei duas dentre as 3 trilhas do parque. Portanto meus gastos totais foram:

  • Transporte ida e volta desde Bogotá = 120.000 COP
  • Hospedagem para 2 noites em El Cocuy = 60.000 COP
  • Refeições para 2 dias em El Cocuy = 21.000 COP
  • Ingresso ao Parque Nacional El Cocuy = 61.000 COP
  • Seguro para entrar no parque = 7.000 x 2 dias = 14.000 COP
  • Seguro do guia para 2 dias dividido entre 5 pessoas = 2.800 COP
  • Transporte ao parque (80.000 da primeira trilha dividido por 5, 80.000 da segunda trilha dividido por 5 + 50.000 de mototáxi sozinho pra voltar a El Cocuy) = 82.000 COP
  • Serviço de Guia = 130.000 por dia x 2 dias dividido em 5 pessoas = 52.000 COP
  • 1 noite hospedado na Hacienda La Esperanza = 40.000 COP
  • 1 Jantar na Esperanza = 15.000 COP
  • Mercado (snacks para a trilha) = 17.000 COP

GASTOS TOTAIS (2018) = 484.800 COP = R$ 538,70


O QUE LEVAR

  • Mochila de ataque. Eu fiz os dois dias de trilha apenas com uma mochila de 20L. Leve somente o essencial;
  • Calçado de trekking. Qualquer bota ou tênis que aguente caminhar sobre rochas;
  • Roupas para frio. Eu levei uma blusa de fleece, um corta-vento impermeável (não usei), uma calça, segunda pele de calça e camiseta, um par de luvas, um gorro e uma bandana pro pescoço (tudo da Decathlon, menos a calça que foi jeans mesmo. Péssima escolha hahah);
  • Comida para a trilha apenas, já que na Hacienda La Esperanza você fará a maior parte de suas refeições;
  • Água. De 2 a 3 litros será o suficiente, já que você poderá encher as garrafas na Esperanza.

AS TRILHAS

No mesmo dia que cheguei na vila de El Cocuy, eu encontrei com 4 pessoas que estavam procurando um integrante final para fechar um grupo para fazer trekking no parque: a canadense Fabie, os alemães Caro e Markus e o suíço Nico.

Me juntei a eles e ao guia Pablo e juntos fizemos nossos registros e pagamentos para ingressar no Parque Nacional El Cocuy.

Dia 1 – Pulpito del Diablo

No dia seguinte, o jipe do Pablo passou cedo no meu hotel e em 40 minutos chegaríamos ao Posto de Controle El Mirador, situado a cerca de 4.000 metros sobre o nível do mar.

A primeira metade da trilha é razoavelmente plana e não apresenta grandes panoramas, até que se chega numa lagoa que está dentro do vale do Rio Lagunillas. A partir deste ponto, é só subida incessante.

Charmosa lagoinha do Rio Lagunillas
Charmosa lagoinha do Rio Lagunillas

E é mais ou menos por aqui que o páramo começa a dar as caras. Eu adoro os frailejones, uma plantinha bem típica deste ecossistema.

Eu com meus amigos frailejones. Juro que não toquei em nenhum deles
Eu com meus amigos frailejones. Juro que não toquei em nenhum deles

Após passar pelo mar de frailejones, a inclinação da trilha dá uma aumentada e em alguns minutos já é possível ter lindas vistas do vale que estávamos subindo.

Lindo Valle de Lagunillas e panorama típico do páramo andino
Lindo Valle de Lagunillas e panorama típico do páramo andino

Depois do mirante mostrado na foto acima, vem a parte mais difícil deste dia. O caminho segue por alternância entre trilha muito inclinada com escalaminhada sobre rochas. É o momento que mais se sente o desgaste em função do ar rarefeito e, por isso, é essencial caminhar bem devagar.

Após conquistar este trecho, inicia uma porção que é um lajedo imenso de rocha. Neste ponto, o frio aumenta intensamente, pois é uma zona mais exposta e, portanto, os ventos sopram com muita velocidade.

Meu grupo subindo rumo ao mirante para o Púlpito del Diablo

E a última parte do trekking permanece sobre esta laje inclinada de rocha até alcançar o glaciar do Pico Pan de Azúcar. Este mirante fica situado aproximadamente no nível 4.800 sobre o nível do mar.

Infelizmente, tivemos azar com o tempo neste dia. Pairava sobre nós uma nuvem que não permitiu que víssemos nem o topo do Nevado Pan de Azúcar e nem o paredão rochoso que é o Púlpito del Diablo.

Eu no mirante do glaciar do Pan de Azúcar fingindo não estar chateado por não ver nada do fim da trilha
Eu no mirante do glaciar do Pan de Azúcar fingindo não estar chateado por não ver nada do fim da trilha

E descemos pelo mesmo caminho, desta vez num ritmo bem mais acelerado, obviamente.

O total percorrido neste dia foi de 22 km em 9 horas. Marquei o tracklog deste trekking no Wikiloc, como você pode ver neste link.

Ao retornar ao posto de controle, nosso carro estava nos esperando e, então, nos deslocamos para a Hacienda La Esperanza. A fazenda é muito agradável e bem estruturada.

Fazenda La Esperanza, na cota 3.500 msnm
Fazenda La Esperanza, na cota 3.500 msnm

Tomamos um chazinho quente, passamos boas horas conversando sobre a vida e sobre a trilha, jantamos e fomos dormir.


Dia 2 – Laguna Grande de la Sierra

Acordamos preocupados que este dia estivesse nublado igual ao anterior, mas assim que colocamos o pé pra fora da La Esperanza, já havíamos notado que nossa sorte tinha mudado. Não havia uma nuvem sequer no céu, o que nos motivou muito para a caminhada até a Laguna Grande!

Na primeira parte da trilha, andamos por um pequeno vale que possui belas vistas para o Rio Cóncavo e suas várias cachoeirinhas.

Não tardou muito até que descobríssemos o que havíamos perdido no dia anterior. O Púlpito del Diablo e o Pico Pan de Azúcar surgem todo imponentes, formando um cenário que parecia até montagem.

Púlpito del Diablo e Pico Pan de Azúcar pela manhã e pela tarde. No dia anterior caminhamos até a base do glaciar da foto

Na sequência, passamos pelo maravilhoso Valle de los Frailejones. Aqui se contempla os melhores panoramas do páramo que pude ver na vida, com plantas de até 4 metros de altura.

O belissimo Valle de los Frailejones

Após atravessar este vale, passamos pela subida mais inclinada do dia. Ao finalizá-la, é possível contemplar lindas vistas do mesmo vale, desta vez de cima.

Relax no mirante para o Valle de los Frailejones

Para fechar, fizemos a subida final por um trecho alternado entre trilha e rochas até chegar na Laguna Grande de la Sierra, uma lagoa a 4.500 metros de altitude!

A Laguna Grande e vista para vários picos. À esquerda da foto está o Nevado El Cóncavo e na extremidade direita estão o Púlpito del Diablo e o Pan de Azúcar

Estávamos super felizes com a sorte que tivemos neste dia. A vista do mirante é impressionante com todo aquele cenário de rochas, neve, a imensa lagoa e o fantástico céu azul.

Grupo na Laguna Grande!

Descemos de volta até a Hacienda La Esperanza e me despedi do meu grupo. Eles iam fazer a trilha para o Ritacuba no dia seguinte enquanto eu desci até a vila de El Cocuy de moto.

Neste dia caminhamos cerca de 17 km por 9 horas e você pode dar uma olhada no meu tracklog neste link do Wikiloc.


Dia 3 – Base do Ritacuba Blanco

Infelizmente, eu não realizei esta trilha. Não cometa o mesmo erro e complete a tríplice de trilhas do parque: o paredão rochoso do Púlpito del Diablo, a gigante Laguna Grande de la Sierra e seu cenário de picos nevados e, por fim, contemplar a montanha mais alta e mais importante do Parque El Cocuy, o Ritacuba Blanco.

Obrigado pela leitura!

Um abraço!

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