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O Salto Ángel e seus 979 m

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Mini-expedição para a maior cachoeira do mundo no incrível Parque Canaima

RESUMO

Este relato explica como fazer para realizar o tour para o Salto Ángel (Angel Falls) e outras lindas cachoeiras do Parque Nacional Canaima, na Venezuela. A logística consiste em pegar um vôo ou bus para Puerto Ordaz, um vôo para o Parque Canaima, 4 horas de barco até o pé da trilha e percorrer 2,5 km de trilha bem fácil até o mirante na base do estupendo Salto Ángel. O passeio dura 3 dias, porém verás que minha experiência no país foi bem mais longa…

INTRO

Já fazia um tempo que eu estava querendo conhecer o imponente Salto Ángel, nada mais nada menos que a cachoeira mais alta do planeta com seus 979 metros.

Como eu também queria visitar o famigerado Monte Roraima (relato aqui), eu aproveitei os 16 dias de recesso do fim de 2013 para fazer esta trip solo no sul da Venezuela. Exato, passei o Natal nos pés do Salto Ángel e o Ano Novo no topo do Monte Roraima.

Meu brother Ivan me passou o contato do guia Marco, um guianense super gente boa que mora em Santa Elena de Uairén na Venezuela. Infelizmente, parece que ele não está mais organizando passeios para o Monte Roraima e para o Salto Ángel. No relato apresentarei alternativas para a realização deste tour.

Entrei em contato com ele e falei o período que eu teria disponível para viajar. Com muita sorte ele me passou um roteiro que encaixava perfeitamente nos 16 dias que eu teria.

Se você já leu o relato do Monte Roraima verá que os seguintes itens se repetem: Programação (Com Agência), Dicas de Câmbios e os Dias 1 e 2 do Relato.

Roteiro Completo

Veja na figura abaixo o mapa com o roteiro retirado do Google Earth. Também pode checá-lo neste link do Wikiloc.

A seguir o resumo do roteiro completo desta viagem.


ROTEIRO

1º DIA – 20/12/2013:

  • Ida ao Aeroporto de São Paulo e vôo até Manaus

2º DIA – 21/12/2013:

  • Vôo madrugueiro de Manaus a Boa Vista
  • Táxi do aeroporto ao terminal rodoviário de Boa Vista (5,2 km)
  • Táxi de Boa Vista à Fronteira Brasil x Venezuela (215 km) e trâmites aduaneiros
  • Deslocamento à Santa Elena de Uairén de táxi (15 km)
  • Chegada na Pousada Michelle e conversa com Marco sobre roteiro

3º DIA – 22/12/2013:

  • 1 dia de tour na Gran Sabana (Salto Kawi, Salto Kama, Salto Sarowapo e Jaspe)
  • Regresso para Santa Elena e saída às 22 de ônibus para Puerto Ordaz (600 km)

4º DIA – 23/12/2013:

  • Chegada em Puerto Ordaz pela manhã
  • Vôo para Aeropuero Canaima no Parque Nacional Canaima
  • Tour pelas cachoeiras Ucaina, El Hacha e El Sapo
  • Pernoite na vila no interior do parque

5º DIA – 24/12/2013:

  • 4 horas de barco pelo Rio Carrao até o pé da trilha para o Salto Ángel
  • 2 km de trilha até o mirante do fabuloso Salto Ángel
  • Pernoite em redes próximo à cachoeira (Feliz Natal!)

6º DIA – 25/12/2013:

  • Regresso de barco até a vila
  • Avião até Puerto Ordaz
  • Hospedagem em Puerto Ordaz

7º DIA – 26/12/2013:

  • Deslocamento Puerto Ordaz -> Santa Elena
  • Hospedagem em Santa Elena

8º AO 16º DIAS – 27/12/2013 a 04/01/2014:

  • 8 dias de trekking no Monte Roraima. Link para este relato aqui.

PROGRAMAÇÃO

Com Agência

Este item é quase igual para os relatos do Salto Ángel e do Monte Roraima.

Eu fechei o passeio por facebook com o grande Marco McAlexis William Peña, mas aparentemente ele não tem mais trabalhado com turismo.

É uma pena, pois fechei um super pacote que incluía guia por 13 dias na Venezuela e refeições por 10 dias, ao custo de singelos R$ 1.350,00 para a viagem completa: Salto Ángel + Monte Roraima!

Após combinar o passeio com o Marco só o que fiz foi comprar as passagens de avião, verificar se minha carteira internacional de vacina de febre amarela estava em dia e levar uns reais e dólares para alguns custos adicionais.

O Marco não organizou a viagem sozinho. Ele foi auxiliado pelo Michael Salazar e pela Zorielis Pomonti, os quais abriram uma agência chamada Extremo Ancestral e continuam fazendo passeios até hoje.

Segue abaixo o site de algumas agências venezuelanas que organizam este passeio:

As agências pedirão para que você pague metade com antecedência. O valor não é reembolsável. Indiquei a Extremo Ancestral para um amigo, ele reservou, não pode mais ir e perdeu este dinheiro.

Como mostra o roteiro acima, não é tão complicado chegar em Santa Elena de Uairén, caso você decida iniciar o tour de lá. Assim que chegar na cidade, os guias estarão ao seu lado para te orientar com hospedagem, passagens de ônibus, refeições extras, etc… A ser detalhado no relato.

OBS.: há agências brasileiras que irão organizar todos os trâmites logísticos, o que pode ser aconselhável na Venezuela. Com certeza será mais seguro. Entretanto, os valores dos pacotes serão mais caros e costumo procurar as opções mais em conta.


Sem Agência

Não vi ninguém indo até o Salto Ángel por conta. Creio que a Venezuela não é um país com muita gente se aventurando sozinha. Segue o que precisa fazer:

  • Compre passagens de avião ou de ônibus para Puerto Ordaz a partir de Santa Elena ou de Caracas
  • De Puerto Ordaz compre vôo para Aeropuerto Canaima (mesmo aeroporto, PZO)
  • Se hospede na Vila Canaima. Há várias opções de estadia
  • Encontre um barqueiro pra te levar rio acima até o pé do Salto Ángel. Terão vários.

QUANDO IR?

Quando vou visitar uma cachoeira eu procuro ir no período de cheia para poder contemplar as quedas com o maior volume d’água possível. Entretanto, se você pensar assim para o Salto Ángel, pode ser que você não conseguirá ir até o mirante na base da cachoeira porque a correnteza dos rios Carrao e Churun se torna muito forte, impossibilitando a navegação pelos mesmos.

Todavia, se você for no período de maior seca, os rios ficam com pouca água e também pode haver dificuldades para a navegação.

Fui ao final de dezembro e consegui ver as cachoeiras da Laguna de Canaima com uma grande quantidade d’água e consegui chegar até o mirante mais próximo ao Salto Ángel.


CONSULADO BRASILEIRO

Seguem os dados do Consulado Brasileiro em Puerto Ordaz:

  • Chefe do posto: José Carlos Lima da Costa
  • Endereço: CAMPO URBANIZACIÓN CAMPO “B” DE FERROMINERA, CARRERA BUENOS AIRES, CASA Nº 26, CIUDAD GUAYANA, VENEZUELA, 8050
  • Email: consbras.cguayana@itamaraty.gov.br
  • Telefone: (0058286) 9230395
  • Plantão Consular: (0058) 4249140807

Fonte: Itamaraty


GASTOS (2013)

Vou deixar os gastos para a trip completa dos 16 dias. Para ver os preços dos novos pacotes, mande um e-mail para a agência Extremo Ancestral. Segue itens e valores apenas para ter uma base:

  • Avião São Paulo -> Boa Vista = R$ 1.700,00 (ano novo salgado)
  • Pacote Salto Ángel + Monte Roraima = R$ 1.350,00. Infelizmente agora os preços estão bem mais altos.
  • Táxi Boa Vista. Aeroporto a rodoviária = R$ 10,00
  • Táxi Boa Vista a Fronteira = R$ 25,00
  • Táxi a Santa Elena de Uairén = R$ 2,00
  • Hospedagem Pousada Michelle (1ª noite) = R$ 20,00
  • Tour Gran Sabana = R$ 100,00
  • 2x Almoços e 3x Jantares em Santa Elena = R$ 70,00
  • Almoço e Jantar em Puerto Ordaz = R$ 60,00
  • Táxi Santa Elena a Aduanas a Boa Vista = R$ 35,00
  • Almoço Boa Vista = R$ 20,00

Resumo de gastos: Combinei tudo por facebook com o guia Marco, gastei R$ 1.350,00 para 12 dias de passeios, R$ 1.700,00 com passagem de avião e cerca de R$ 400,00 com gastos extras, totalizando R$ 3.450,00.


DICAS DE CÂMBIO (2013)

Este item também se repete em ambos os relatos.

Para a questão de trocar grana, não tem casa de câmbio no sul da Venezuela. Então troquei dólares na rua mesmo com um local que ficava balançando dinheiro cerca de 200 m pra frente da aduana brasileira. Troquei 200 USD por 4000 VEF e mal sabia quanto essa grana representava na Venezuela. O Marco me informou que o salário médio (não mínimo) do venezuelano gira em torno de R$ 140,00 (em 2013).

Eu paguei 1 pra 20 na conversão do dólar para o bolívar venezuelano (preço de dezembro/2013). Meu irmão foi no ano anterior e pagou 1 pra 8, sendo que a cotação oficial é 1 pra 6. Cerca de 2 meses depois que eu fiz essa viagem, a diferença subiu para 1 pra 50!

Levei dólares pois é mais fácil trocar pela moeda venezuelana e você vai precisar de um pouco. Mas se o intuito for apenas fazer o monte Roraima não será necessário pois todos em Santa Helena aceitam Reais, devido à proximidade com a fronteira. Com o Marco não foi diferente, já que para os 12 dias de tour ele aceitou tudo em reais. O bom é que sobrou dólares e ele deixou que eu fizesse um mix de real com dólar para efetuar o pagamento.

Conto triste: troquei dólares com o primeiro indivíduo que cruzou o meu caminho, mas um amigo fez essa mesma logística um ano antes e se deu mal. Ele trocou 500 dólares por Bolívares Venezuelanos com um local ao passar pela aduana brasileira. Porém, assim que este local devolveu o equivalente em VEF ele gritou: “polícia, cuidado!” e foi embora. Como a troca já havia sido feita, meu brother não esquentou e foi até a aduana venezuelana. Lá ele foi ao banheiro e logo em seguida entraram dois policiais com tom hostil pedindo para que ele abrisse a carteira. Ele o fez e os policiais alegaram que ele estava com dinheiro falso e deram voz de prisão para ele. Só se safaria se pagasse mais 500 doletas. Resumindo, no primeiro dia de viagem ele perdeu 1000 USD e tomou a decisão de regressar para o Brasil logo de cara!

Mas não se assuste com esta história. Contei apenas para atentar dos perigos da região. Não deixe de visitar este lindo país!


O RELATO!!

Só o que fiz com antecedência para esta viagem foi conversar com um índio pemon guiano no facebook, enviar uma foto do meu passaporte pra ele e compram passagens de avião pra Boa Vista.

É um pouco esquisito fechar um passeio só pelo facebook, né? Antes de ir perguntava pro Marco quase que diariamente se tava tudo certo com a trip e ele sempre respondia que sim.

Ainda assim durante o vôo de ida comecei a fantasiar: “será que vou encontrar esse cara??” “Que faço se chegar lá e não encontrá-lo?”. Acho que o que me deixou mais tranquilo foi saber que meu irmão já tinha feito esse passeio.

Detalharei este encontro no decorrer do relato.


DIA 1 – De São Paulo a Boa Vista

Dia 20 foi uma sexta-feira. Trabalhei até as 17 e fui para o Aeroporto de Guarulhos pegar o avião para Manaus que saiu às 20:30.

Cheguei em Manaus por volta de 00:30 e tive que esperar duas horas no aeroporto para entrar no avião das 02:30 pra Boa Vista.

Cerca de 04 da madruga o avião pousou na capital roraimense. Não tinha muito que fazer este horário então encostei num canto no chão para dormir no aeroporto de Boa Vista.


DIA 2 – Boa Vista a Santa Helena

Acordei por volta das 7 da manhã e tomei um café. Saí do aeroporto a procura de táxis que me levassem até a rodoviária da cidade, que é de onde saem ônibus para a fronteira Brasil/Venezuela.

Ao sair do aeroporto recebi as boas vindas da Linha do Equador logo de manhã. Um bafo de calor intenso como raramente vi igual hahah.

Peguei um taxi para a rodoviária que custou R$ 10,00. Assim que cheguei pedi informação sobre traslado para a fronteira e de cara encontrei um taxista com 4 pessoas no carro terminando de por as malas no bagageiro. Perguntei se havia uma vaga sobrando e ele me colocou dentro do carro.

Os traslados para a fronteira custam um preço fico de R$ 25,00 por pessoa (ou R$ 35,00 até Santa Helena), então os táxis não saem com poucos passageiros, já que a estrada é longa.

Cerca de 215 km bem pavimentados separam Boa Vista da fronteira, então consegui dar um cochilada. Não faça o mesmo pois a paisagem é linda. Primeira amostra da Floresta Amazônica da vida.

Por volta das 11 da manhã o taxi me deixou na aduana brasileira, que estava com uma fila considerável. Esperei por uma hora, mas conheci um pessoal que alegou ter ficado 4 horas na fila pra carimbar o passaporte!

Troquei a grana com um local que foi extremamente simpático e ofereceu ajuda pra arrumar um taxi, mas fui andando até a aduana venezuelana, situada a 1 km da brasileira.

Depois de entrar na Venezuela peguei um taxi na rua que me cobrou o equivalente a R$ 2,00 pra ir até Santa Helena. O taxista conhecia a Pousada Michelle e me deixou a 200 metros da mesma, pois a rua do hotel era contramão.

Ainda meio inseguro se aquela pousada existia e se só com as informações boca a boca do Marco eu conseguiria encontrá-la, segui andando pela Calle Urdaneta.

Eu estava na calçada do lado esquerdo, quando, a 50 metros da pousada, um baixinho parrudo com cara de índio atravessava a rua para o mesmo lado que eu estava. Suspeitando de quem poderia ser e antes de chegar na pousada eu arrisquei: “- Marco?” Ele olhou pra trás e me reconheceu, pra minha tranquilidade.

O Marco é um cara 1000% sangue bom. Ele conta várias histórias da região e detalha suas crenças de uma maneira bem bonita. É uma cultura muito interessante e vale a pena contemplar a devoção do povo com os tepuis e com a natureza. Fazer o passeio com ele foi um grande privilégio, mesmo com alguns contratempos que enfrentaríamos nos 12 dias que estavam por vir.

Tepui = montanhas formadas por chapadões de arenito que possuem formas muito peculiares, com paredes podendo atingir centenas de metros a quase 1 km de altura e sempre com o topo aplainado. Fato interessante é a devoção do povo local aos deuses que habitam a montanha.

Chegamos juntos na Pousada Michelle. Como não havia reservado nada, o Marco conseguiu uma vaga pra mim na hora. Mas disse que dei sorte pois normalmente eles lotam rapidamente.

Paguei R$ 20,00 só para um pernoite. As demais estariam dentro do pacotão que fechei com o Marco.

Me acomodei num quarto aconchegante e sai para comer alguma coisa e conhecer a cidade que é bem simples e sem grandes atrativos.

Horas mais tarde retornei para conversar com o Marco sobre o roteiro e enquanto ele não chegava troquei idéias com vários gringos. Esta pousada tem um clima de hostel bem bacana.

Pouco depois ele voltou e me apresentou o roteiro com os detalhes logísticos, os quais foram apresentados no item ROTEIRO e serão detalhados no decorrer do relato.

Após me passar os detalhes dos roteiros para o Salto Ángel e o Monte Roraima, ele me perguntou se eu queria fazer algum tour de 1 dia pela Gran Sabana no dia seguinte, já que o passeio para o Salto só teria início um dia depois.

Confirmei com ele o esquema, que custaria em torno de R$ 100,00, e me falou que eu faria este passeio num grupo que já possuía 6 brasileiros.

Quando eu viajo pra fora do Brasil eu evito contato extremo com brasileiros pra aperfeiçoar nas línguas, seja inglês ou portunhol. Mas o que ainda não sabia é que nesta trip eles viriam a ser tornar meus melhores amigos por 15 dias.

Fui dormir com uma mistura de sensações. Me sentia meio perdidão naquele mundo que só “conhecia” o guia, porém estava com uma expectativa tremenda para conhecer as atrações que me aguardavam. E claro, queria me relacionar bem com as pessoas que me acompanhariam pelo resto da viagem e estava com medo que os brasucas fossem malas hahah.


DIA 3 – Tour na Gran Sabana

Ruta Truncal, GranSabana
Gran Sabana, percurso Ruta Truncal

Acordei cedinho, tomei um café, me arrumei e fui para a frente da pousada esperar o jipe do guia que iria conduzir o passeio pela Gran Sabana.

Ele atrasou uma meia hora, me buscou, fez a volta no quarteirão e me fez esperar mais vinte minutos na frente do hotel do restante do pessoal que ia nos acompanhar.

Logo os parceiros entraram um a um devagarosamente e eu, meio sem jeito, me limitei a cumprimentá-los com um sorriso simpático.

Will e Rubinho de SP, as irmãs Jung e Su de Seul (ambas no Brasil há mais de 15 anos) que também moram em SP e Tizzi e Cândida de SC. Uma coisa que me impressionou nesta turma é que muitos deles se conheceram viajando e agora se uniram para conhecer o sul venezuelano.

Neste dia conheceríamos 4 cachoeiras da Gran Sabana, situadas às margens da mesma rodovia “Ruta Troncal 10”, que liga a fronteira Brasil/Venezuela com Santa Elena e segue sentido norte até o litoral caribenho passando por Puerto Ordaz.

Mas antes demos uma parada no posto de gasolina… uma tranquila pausa de quase 1 hora!! Pois é, 1 hora de fila só para abastecer.

Fila pro posto em Santa Elena
Pode até parecer, mas os carros não estão estacionados

Só existem 2 postos de gasolina em Santa Elena. Pra piorar um dos postos é dominado por brasileiros que saem de Boa Vista, percorrem mais de 400 km (ida e volta) e encaram um baita trânsito só pra abastecer na Venezuela, onde o combustível é estupidamente barato. Com menos de R$ 1,00 um venezuelano enche o tanque, mas eles cobram R$ 20,00 dos carros com placa do Brasil.

Partindo finalmente para nosso passeio, percorremos 120 km de rodovia até pararmos no primeiro e mais distante ponto turístico: o Salto Kawi. Faríamos os demais pontos no caminho de regresso para Santa Helena.

1º Ponto – Salto Kawi

Chegamos numa propriedade que é necessário pagar uma pequena quantia para entrar. A trilha é curta e bem simples. Primeiro chegamos no topo do salto e depois contornamos para alcançar sua base.

O salto tem uns 5 metros de altura e seu poço uns 20 de diâmetro, que juntos formam um cenário bem agradável. A cachoeira não cai direto no poço. Ela se choca com patamares de arenito, que por sinal ficam bem lisos, nos quais é possível sentar debaixo da queda, propiciando uma ducha deveras confortável!

Topo do Salto Kawi
Topo do Salto Kawi

Pra minha alegria, meus 6 novos parças entraram embaixo da cachoeira sem receio da água gelada. Quase escorreu uma lágrima, pois adoro estar no meio de pessoas conectadas com a naturaleza.

Ficamos lá por cerca de meia hora e voltamos para o carro para curtirmos a próxima atração.

Neste momento a minha interação com eles ainda estava tímida. Apenas conversava coisas educadas e aparecia nas fotos deles meio de canto hahahah

Andamos 5 min de carro até alcançarmos a próxima cachoeira.

2º Ponto – Salto Kama Meru

O Salto Kama fica bem próximo da estrada.

Primeiramente chega-se no belo Rio Aponwao, o qual cruza a rodovia. Ele possui aproximadamente 30 m de largura.

Neste momento estávamos no topo da cachoeira e só era possível ver o abismo e imaginar a magnitude da queda.

Depois, anda-se cerca de 200 m numa trilha paralela ao rio até alcançar o mirante. Este revela a face incrível do Salto Kama. Uma queda livre de 50 metros de altura vindo de um rio com um volume d’água bem expressivo. Infelizmente não tivemos tempo de descer, mas o mirante propicia a contemplação de um panorama lindo.

Salto Kama Meru
Mirante para o Salto Kama Meru.

Voltamos para o carro e andamos 42 km rumo ao próximo ponto.

3º Ponto – Salto Sarowapo

Mais modesta que as demais atrações do dia, o Salto Sarowapo se situa num grande patamar de pedras de cerca de 3 metros de altura que forma várias pequenas quedas bem simpáticas.

Há inclusive um bom poço para banho e lugares para saltar no mesmo.

Salto Sarowapo
Piscina natural do Salto Sarowapo

Mais 29 km sentido Santa Elena e chegaríamos na próxima e última atração do dia.

4º Ponto – Jaspe

Após uma curta trilha, agora numa região da Gran Sabana com vegetação mais robusta, chegamos na cachoeira Jaspe.

Este local é muito peculiar e bem interessante.

A cachoeira forma uma bela cortina de água, numa queda larga e não muito alta, agradável para uma ducha.

Mas o mais curioso é o imenso patamar de rocha de 300 metros de comprimentos no qual o rio desliza. O material é composto por quartzo cristalino ou jaspe e possui uma linda cor vermelha (venelogia.com).

Jaspe
Lajedo de Jaspe

Agora já mais enturmado após um dia inteiro, eu e o Will ficamos brincando idiotamente de surfar sobre o patamar liso de jaspe hehe.

Fim do dia e dirigimos 40 km de regresso até Santa Elena.

Mas não tínhamos tempo para descansar, pois o nosso ônibus madrugueiro para Puerto Ordaz sairia nesta noite.

Voltei para a Pousada Michelle, arrumei as malas, jantei e fui junto com o Marco, o Michael e os 6 brasucas para o terminal rodoviário de Santa Elena de Uairén.

Entramos no ônibus das 22:00 direto para Puerto Ordaz.

A viagem foi longe de ser confortável. O ônibus até que era só que a quantidade de passageiros era maior que a de assentos. Como eu sentei na última poltrona do corredor, um rapaz sentou ao meu lado encostado no fundo do ônibus. Foram 10 horas acordando com os roncos e os pulos noturnos do meu parceiro de viagem hahahaha.


DIA 4 – Saltos de Canaima

Chegamos às 8 na Rodoviária de Puerto Ordaz e nossa amiga Zorielis, contato do Marco, estava lá para nos receber. Ela foi um grande apoio em toda nossa passagem nesta cidade e no Parque Nacional Canaima.

Tomamos um café e depois seguimos para o Aeroporto de Puerto Ordaz.

Para comprar passagens de avião para a Vila de Canaima há um lance estranho que não é possível comprá-las com antecedência. Só é possível comprar no mesmo dia bem cedo… não sei se ainda é assim…

A Zorielis já havia reservado nossas passagens e embarcamos para o parque num aviãozinho de 30 lugares, um pouco suspeito para quem tiver medo de andar de avião.

Avião Canaima
Aviãozito que faz o trecho Puerto Ordaz <-> Parque Canaima

Meu irmão falou que se borrou quando fez esse vôo hehehe

Chegamos na Vila de Canaima por volta das 10 da manhã e fomos nos acomodar na pousada que ela e o Marco haviam reservado para a gente.

Ararinha linda
Ararinha super dócil com asa machucada que morava na pousada que ficamos

A vila fica às margens da belíssima Laguna de Canaima, na qual em breve partiríamos para um tour incrível. Ela não é uma lagoa de fato e sim uma extensa área bem plana que recebe água do Rio Carrao por meio de diversas e generosas cascatas.

Laguna de Canaima
Laguna de Canaima (Foto: Jung Yun Chi)

Fizemos um tempo relaxante na lagoa e voltamos para almoçar na nossa pousada.

Logo após o rango, descansamos um pouco e por volta das 15 horas embarcarmos para o tour nos Saltos de Canaima.

Saímos de barco da Vila de Canaima e atravessamos toda a lagoa por cerca de 1 km, passando pela monumental sequência de 600 m de diversos saltos, representada pelas cachoeiras El Hacha, Wadaima, Golondrina e Ucaima.

Os saltos possuem cerca de 40 metros de altura mas o volume de água era inacreditável. Não me lembro de ter visto tamanha potência de águas (Tá, eu sei. Um dia eu vou pra Iguaçu).

Salto El Hacha
Salto El Hacha de longe

Após atravessar a laguna descemos do barco, fizemos umas fotos e seguimos trilha adentro para conhecer outra belíssima cachoeira.

Em 1 km de caminhada chegaríamos no vasto poço do Salto El Sapo, o qual mede cerca de 200 por 400 metros, cujas águas também são provenientes do Rio Carrao. Aqui fizemos um banho relaxante por alguns minutos.

O Salto El Sapo tem os mesmos 40 metros de altura e cerca de 120 de largura, mas o volume de água é menor que das cachoeiras da Laguna de Canaima.

Depois do banho voltamos pra trilha e fomos até o pé do Sapo.

Aqui há um enorme patamar de rocha situado atrás da queda, no qual é possível caminhar de uma ponta a outra do salto, possibilitando a contemplação de incríveis vistas do Salto El Sapo!

Salto El Sapo
Salto El Sapo

Depois subimos para um mirante por cima do salto. A vista é lindíssima e dá uma ligeira ideia do que curtiríamos no próximo dia, com aquela imensidão de tepuis para todos os lados.

Topo do Salto El Sapo e tepuis
Topo do Salto El Sapo e tepuis

Regressamos para a trilha e voltamos sentido Laguna de Canaima, porém não voltamos para o barco ainda. Antes entramos a esquerda numa trilha pouco antes de chegar no lugar onde o barco nos deixou.

Após uns 200 m caminhados chegamos aos pés do imponente Salto El Hacha. Se o volume de água já era impressionante de longe, de perto então era surreal.

Para nossa sorte também há um caminho de pedras por detrás da queda, que é mais impressionante ainda que o El Sapo. Uma experiência fabulosa e levemente assustadora hehe.

Salto El Hacha
Salto El Hacha de perto

Espero que você também pegue uma época de cheias.

E foi isso. Curtimos um belo pôr-do-sol na Laguna de Canaima e voltamos para a Vila de Canaima nos preparar para conhecer a maior cachoeira do mundo!


DIA 5 – O Salto Ángel e o Natal

E teve início um dos dias mais lindos da minha vida. O dia da visita ao Kerepakupai Meru e ao Auyantepui.

Kerepakupai Meru é o nome indígena do Salto Ángel e Auyantepui é o nome do tepui que abriga a cachoeira mais alta do mundo.

Saímos da Vila de Canaima às 09:00 e seguimos Rio Carrao acima de barco.

Subindo para o Salto Angel
Galera no barquinho subindo o Rio Carrao para chegar ao Salto Ángel

O barco não é exatamente super confortável mas há duas paradas que servem para aliviar as nádegas.

Após 20 minutos do início descemos do barco para contornar um trecho bem tenso do rio que, a depender do volume de água, o barqueiro solicita que desçamos para não bater nas pedras. Aliás, em vários momentos da subida há porções em que o barco se choca com as pedras submersas, mas não se assuste. É normal.

Aqui se pode avistar o Auyantepui ao longe. Neste momento mal tínhamos noção da imponência desta incrível montanha.

Vista Auyantepui
Auyantepui de longe. O tepui do Salto Ángel (Foto: Jung Yun Chi)

Voltamos para o barco e agora só pararíamos para o almoço.

Agora seriam 2:30 ininterruptas, mas o desconforto foi minimizado pelo deslumbre da paisagem. A medida que seguíamos pelo Rio Carrao, as imensas montanhas em formas de mesa iam se aproximando.

A sensação de se aproximar de um tepui é indescritível. De estar num rio rodeado por eles então, é simplesmente único. Os tepuis são montanhas extremamente peculiares, que só presenciando pra entender.

Auyan de perto
Auyantepui de perto

Se estar nos pés já era incrível, imagina subi-los então? O trekking para chegar ao topo do Auyantepui dura 15 dias. É uma verdadeira expedição. Não iria fazer, mas estava tranquilo pois em breve subiria o tepui mais famoso do mundo, o Monte Roraima.

Após 28 km da Vila de Canaima, o barco chega bem aos pés do Auyan e agora não se afasta mais dele.

Passamos na Isla Orchidea e logo depois viramos a direita no afluente do Rio Carrao, o Rio Churun. Este é mais estreito e mais tortuoso que o Carrao e é o principal rio que entalha o Auyantepui.

Pouco depois paramos para almoçar e prosseguimos pelo Rio Churun.

Quando começamos a ter as primeiras vistas da Angel Falls, a emoção foi grande. É impressionante observar aquele tanto de água caindo do topo do Auyantepui, mas ainda estávamos longe.

Se aproximando da Angel Falls
Se aproximando da Angel Falls

O caminho total de barco se dá por 41 km no Rio Carrao e 32 km pelo Rio Churun.

Finalmente, após 4 horas de barco, chegamos no pé da trilha para o mirante do Salto Angel, que aqui não aparecia, pois, a floresta no local é bem densa e cobria as vistas.

A trilha é bem fácil com seus 2,5 km de extensão e segue sempre encoberta pela vegetação.

Até que enfim chegamos no mirante e a queda de 979 metros de altura se revela. O ponto de vista aqui fica a cerca de 500 metros de distância da queda.

O Salto Ángel! 979 m de queda!
O Salto Ángel! 979 m de queda!

Quase não dá para se ter noção do tamanho do salto. A mais alta que eu tinha visto de perto até hoje tinha 273 m (Cachoeira do Tabuleiro no Brasil) e já era um absurdo!

Olhar aquele paredão infinito e visualizar uma queda de quase 1 km de altura é extraordinário… Sem palavras para tanta beleza e tanta grandeza ao mesmo tempo.

Após muito tempo de contemplação fomos mergulhar num poço que tem ao pé de uma queda menor, continuação do Rio Kerepakupai Merú.

Poço Salto Ángel
Pocinho agradável
Salto Ángel
Vista do Salto Ángel do pocinho

Ficamos um tempo banhando e depois seguimos de volta pra trilha.

Voltamos os 2,5 km até o Rio Churun e atravessamos o mesmo para chegar no acampamento que passaríamos a noite de Natal.

Foi uma noite muito agradável. Conheci melhor meus 6 novos amigos numa ceia lotada de turistas e índios guias sob o teto aconchegante dos abrigos, além de apreciar a saborosa e pesada comida venezuelana.

Antes da meia noite fomos dormir nas nossas redes.


DIA 6 – Regresso à Puerto Ordaz

Este era pra ser o dia do regresso até Santa Elena e o dia seguinte seria descanso antes de iniciarmos o Trekking do Monte Roraima, porém as coisas não aconteceram como o esperado.

Saímos de barco do nosso acampamento de Natal às 8:00 com chegada às 11:00 na Vila de Canaima.

Pegamos o vôo para Puerto Ordaz e chegamos ao aeroporto da cidade por volta das 12:30.

Aí começaram os desconfortos.

O Marco havia dito que iríamos voltar de avião para Santa Elena, mas não havia mais vôos. E como era Natal não havia táxis para nos levar para o nosso destino.

Porém a nossa guia Zorielis disse que poderíamos chegar bem cedo no aeroporto no dia seguinte para pegarmos o suposto avião.

Rolou um stress porque o prometido pelo Marco era voltar este dia para que pudéssemos ter o nosso dia de descanso.

Bom, depois de algumas conversas internas resolvemos ficar esta noite em Puerto Ordaz mesmo e torcer para que as coisas dessem certo no próximo dia.

Jantamos no McDonald’s da cidade (o qual me deixou mal por 4 dias) e fomos dormir.


DIA 7 – Regresso à Santa Elena

O que era pra ser um dia de descanso acabou se tornando um dia de cansaço e stress.

Chegamos ao aeroporto às 6:00 e ficamos na fila esperando até às 9:00, horário de início de venda das passagens.

Porém, após a longa espera, não tinha vaga no avião.

Aí a gente despirocou em cima da Zorielis hahaha.

Bom. Imprevistos de viagens. Tínhamos que voltar pra Santa Elena de qualquer jeito pra iniciar nosso querido trekking no dia seguinte.

Ela chamou o pai dela e um amigo para nos levar para Santa Elena em 2 táxis.

E após 10 horas de desconforto chegamos a Santa Elena depois das 22:00.

Estávamos exaustos e o Marco e o Michael ficaram claramente sem jeito pela situação que nos fizeram passar. Até nos deram janta de graça, que não tava inclusa no pacote, e uma sessão de estalada de costas.

E logo fomos capotar, pois no dia seguinte iniciaríamos uma investida de 8 dias de caminhada.

Se o intuito for fazer apenas o Salto Ángel, saia de Santa Elena sentido Boa Vista nos mesmos trâmites da ida. Mas eu segui para o Monte Roraima, como pode ver no link para o relato aqui.

E foi assim que acabou esta incrível viagem. Tanto o Salto Ángel quanto o Monte Roraima são lugares únicos e indispensáveis para qualquer amante da natureza. Não deixe de ir!

Obrigado por ler!

Abração!

Salto Ángel

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