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8 dias de Expedição ao Monte Roraima

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Todas as informações para você se preparar para o fabuloso trekking do Monte Roraima!

RESUMO

O presente relato mostra o que você precisa fazer para se programar para o trekking do Monte Roraima e a minha incrível experiência na região. Fechei um pacote de 8 dias diretamente com um guia de Santa Elena de Uairén, na Venezuela. Os guias levam barraca e comida, diminuindo bastante a dificuldade do trekking de 95 km (ida e volta para 8 dias). Recomendo que feche o passeio com um guia local ou com agência, mas apresento alternativas caso decida ir por conta. Se prepare para muitas chuvas e frio no topo do monte. Passagem obrigatória na vida de qualquer amante da natureza, o Monte Roraima fascina com seu cenário único e revelador.

INTRO

Eu desejava realizar o trekking do Monte Roraima Desde que meu irmão Ivan foi em 2012 e recomendou imensamente. A vontade aumentou após assistir o documentário “Mundo Perdido” no Discovery Channel, que apresenta as peculiaridades do lugar, combinando ciência e as fantasias retratadas no livro de Arthur Conan Doyle.

Para esta viagem, eu também queria conhecer o Salto Ángel ou Angel Falls (relato aqui), então aproveitei os 16 dias de recesso do fim de 2013 para fazer esta trip no sul da Venezuela. Exato, passei o Natal no pé do Salto Ángel e o Ano Novo no topo do Monte Roraima.

Meu brother Ivan me passou o contato do guia Marco, um guianense super gente boa que mora em Santa Elena de Uairén na Venezuela. Infelizmente, parece que ele não está mais organizando passeios para o Monte Roraima e para o Salto Ángel. No relato apresentarei alternativas para a realização desta trip.

Entrei em contato com ele e falei o período que eu teria disponível para viajar. Com muita sorte ele me passou um roteiro que encaixava perfeitamente nos 16 dias que eu teria.

Se você já leu o relato do Salto Ángel verá que os seguintes itens se repetem: Programação (Com Agência), Dicas de Câmbios e os Dias 1 e 2 do Relato.

Veja na figura abaixo o mapa com o roteiro do Trekking Monte Roraima:

Mapa do Roteiro
Mapa dos 8 dias de Monte Roraima

ROTEIRO

1º DIA – 20/12/2013:

  • Ida ao Aeroporto de São Paulo e vôo até Manaus

2º DIA – 21/12/2013:

  • Vôo madrugueiro de Manaus a Boa Vista
  • Táxi do aeroporto ao terminal rodoviário de Boa Vista (5,2 km)
  • Táxi de Boa Vista à Fronteira Brasil x Venezuela (215 km) e trâmites aduaneiros
  • Deslocamento a Santa Elena de Uairén de táxi (15 km)
  • Chegada na Pousada Michelle e conversa com Marco sobre roteiro

3º AO 7º DIAS – 20 a 26/12/2013:

  • Tour na Gran Sabana
  • Ida a Puerto Ordaz e ao Parque Nacional Canaima
  • Expedição ao Salto Ángel e Lagunas de Canaima.
  • Retorno à Santa Elena

8º DIA – 27/12/2013:

  • 1º dia Trekking Monte Roraima. 90 km de carro de Santa Elena de Uairén até a vila de Paraitepuy
  • 13,4 km de caminhada de Paraitepuy até o Acampamento Rio Tek

9º DIA – 28/12/2013:

  • 2º dia Trekking Monte Roraima. 10 km de caminhada do Rio Tek até o acampamento no pé do Monte Roraima, totalizando um desnível de 750 m

10º DIA – 29/12/2013:

  • 3º dia Trekking Monte Roraima. 4 km de subida até o topo do Monte Roraima, somando um desnível de 800 m
  • 1,3 km caminhando no plano até o acampamento Hotel San Francisco

11º DIA – 30/12/2013:

  • 4º dia Trekking Monte Roraima. 10,2 km de caminhada até o Ponto Triplo (Fronteira Brasil x Venezuela x Guiana).
  • E mais 500 m até o Hotel Nuevo, pois a Gruta do Quati estava lotada.

12º DIA – 31/12/2013:

  • 5º dia Trekking Monte Roraima. Mudança para a Gruta do Quati.
  • 10 km de caminhada ida e volta até o Lago Gladys passando pelo mirante da floresta guianense (Feliz Ano Novo!)

13º DIA – 01/01/2014:

  • 6º dia Trekking Monte Roraima. Início do regresso. 12,2 km caminhados da Gruta do Quati até o Hotel San Francisco
  • 2,8 km ida e volta até as Jacuzzis

14º DIA – 02/01/2014:

  • 7º dia Trekking Monte Roraima. 2 dias em um.
  • Descida para o acampamento base e deslocamento para o Acampamento Rio Tek, totalizando 15,3 km de caminhada.

15º DIA – 03/01/2014:

  • 8º dia Trekking Monte Roraima. 13,4 km de retorno para chegar a Paraitepuy.
  • TOTAL CAMINHADO NO TREKKING = 95 km
  • Retorno a Santa Elena de Uairén

16º DIA – 04/01/2014:

  • Regresso Santa Elena a Boa Vista
  • Vôo Boa Vista -> São Paulo

PROGRAMAÇÃO

Com Agência ou Guia

Este item é quase igual para os relatos do Salto Ángel e do Monte Roraima.

Eu fechei o passeio por facebook com o grande Marco McAlexis William Peña, mas aparentemente ele não tem mais trabalhado com turismo.

É uma pena, pois fechei um super pacote que incluía guia por 13 dias na Venezuela e refeições por 10 dias, ao custo de singelos R$ 1.350,00 para a viagem completa: Salto Ángel + Monte Roraima!

Após combinar o passeio com o Marco só o que fiz foi comprar as passagens de avião, verificar se minha carteira internacional de vacina de febre amarela estava em dia e levar uns reais e dólares para alguns custos adicionais.

O Marco não organizou a viagem sozinho. Ele foi auxiliado pelo Michael Salazar e pela Zorielis Pomonti, os quais abriram uma agência chamada Extremo Ancestral e continuam fazendo passeios até hoje.

Segue abaixo o contato de algumas agências e guias venezuelanos que organizam este passeio:

  • Nativa Tours
  • Leopoldo: +58 424 911 5872
  • Roman: +58 416 100 2700
  • Heber: +58 416 094 8792

As agências pedirão para que você pague metade com antecedência. O valor não é reembolsável. Indiquei a Extremo Ancestral para um amigo, ele reservou, não pode mais ir e perdeu este dinheiro.

Como mostra o roteiro acima, não é tão complicado chegar em Santa Elena de Uairén, caso você decida iniciar o tour de lá. Assim que chegar na cidade, os guias estarão ao seu lado para te orientar com hospedagem, passagens de ônibus, refeições extras, etc… A ser detalhado no relato.

OBS.: há agências brasileiras que irão organizar todos os trâmites logísticos, o que pode ser aconselhável na Venezuela. Com certeza será mais seguro. Entretanto, os valores dos pacotes serão mais caros e costumo procurar as opções mais acessíveis.


Por Conta

Só conheci uma pessoa que fez o Trekking do Monte Roraima sozinho. Creio que a Venezuela não é um país com muita gente se aventurando por conta. Segue o que precisa fazer:

Antes de ir:

Antes de tomar o avião para Boa Vista você precisa solicitar as autorizações que os parques nos lados brasileiro e venezuelano exigem. Estas infos eu peguei do excelente relato do blog Vida Sem Paredes que se encontra neste link. Com licença Camila e Nange. Espero que não se incomodem:

  • Solicite autorização para o Parque Nacional no lado brasileiro através do e-mail parnamonteroraima@icmbio.gov.br ou telefones: (95) 3592-1085, (95) 3623-0473 e (61) 3341-9784
  • Retire as autorizações no endereço “Av. Pan Americano S/N, BV-8, Pacaraima/RR” entre às 9 e 17h. Pacaraima é a cidade que fica na fronteira Brasil/Venezuela.
  • Solicite autorização para o órgão venezuelano Inparques no e-mail inparquescoordinacionbolivar@gmail.com ou no telefone +58 426 898 7945
  • E retire a autorização venezuelana em San Francisco de Yuruani, que fica no caminho para Paraitepuy. Basta pedir para o jipe parar na ida.
  • Contate com antecedência um traslado de Santa Elena ao início da trilha, na vila de Paraitepuy. Camila e Nange encontraram o contato do jipeiro Rainier: Telefone +58 416 868 7574.

Após o vôo para Boa Vista:

  • Faça os trâmites pra chegar em Santa Elena como consta no item ROTEIRO
  • Compre comida para 8 dias e leve barraca e fogareiro
  • Traslado de Santa Elena para Paraitepuy com o Rainier ou com quem conseguir
  • Use GPS ou um app de tracklogs para andar no topo do monte. Meu tracklog se encontra neste link.

QUANTOS DIAS?

As agências costumam oferecer passeios para o Monte Roraima de 5 a 10 dias, mas tenha em mente que são necessários 2 dias de caminhada até a base do morro e mais 2 só para regressar. Então se você pegar um passeio de 5 dias saiba que só terá 1 dia no topo do monte, o que é muito pouco para desfrutar do cenário peculiar do topo.

Recomendo no mínimo 8 dias, que é o suficiente para imergir neste outro mundo por 4 dias.


QUANDO IR?

Como diriam os guias: “se no hay lluvia, no és Roraima”.

Todo o ano há a possibilidade de você enfrentar tempo nublado e chuva no topo do monte. Eu fui no final de dezembro e peguei tempo fechado a maior parte do tempo. Além disso, eu passei muito frio, já que em 2013 eu ainda não investia em equipamento para a trilha.

Meu irmão foi em março e enfrentou dias de sol intenso e muito calor.

Recomendo que vá entre janeiro e abril, que é o verão na região e a época com menos chuvas. Mas há passeios sendo realizados o ano todo.

Leve roupas impermeáveis e protetor solar, independente de quando decida ir.


VICE-CONSULADO BRASILEIRO

Seguem os dados do Vice-consulado Brasileiro em Santa Elena de Uairén:

  • Chefe do posto: Claudio Bezerra da Silva
  • Endereço: Edifício Galeno, Calle Los Castanos, Urbanización Roraima del Casco Central, Santa Elena de Uairén, República Bolivariana da Venezuela
  • Email: vcselena@itamaraty.gov.br
  • Telefone: 00 (xx) 58 289 995-1256
  • Plantão Consular: 00 (xx) 58 4263 92 14 61

Fonte: Itamaraty


O QUE LEVAR?

Falei bastante de preparação, agora um pouco de equipos. Já vou detalhar sobre o que é preciso levar para o Monte Roraima, que foi a verdadeira aventura dos meus 16 dias no sul venezuelano. Os demais passeios não necessitam de nada muito específico, pois são bem tranquilos.

Antes de mais nada queria dizer que passei um perrengue desnecessário por razões estúpidas. Eis os motivos:

– Meu irmão me alertou sobre a intensidade do Sol no topo do Monte Roraima e, portanto, não levei roupas de frio :))

– Meu irmão não me alertou sobre a quantidade de chuvas então deixei meu poncho em casa :))

A culpa não foi do meu irmão Ivan. O frio que eu passei foi por falta de pesquisa. O Que posso fazer se ele deu a maior sorte do milênio por não ter enfrentado chuvas?

Portanto leve consigo:

  • Mochila semi-cargueira ou cargueira se for fazer o trekking sozinho.
  • Saco de dormir e isolante. Leve barraca se for sozinho. Lá no topo faz por volta de zero graus.
  • Kit de Primeiros Socorros
  • 1 Lanterna
  • Protetor Solar
  • 1 Calça impermeável e 1 calça leve
  • 1 Jaqueta Impermeável
  • 1 Blusa Fleece ou segunda pele
  • 1 Poncho impermeável
  • 1 Par de Botas impermeáveis e com solado anti-derrapante. Deixe seu Vibram em casa. No topo do monte você só andará sobre rochas úmidas e bem escorregadias. Presenciei vários tombos da galera. Eu uso a Finisterre da marca Vento. Solado excelente, preço mais acessível que as marcas famosas e a bota mais confortável do mundo.
  • 3 Camisetas
  • 1 roupa de banho
  • 1 Chapéu ou boné
  • Snacks para trilha. Os guias farão almoço e jantar. Ou leve muito rango se for por conta.
  • 1 GPS se for sozinho
  • 1 Câmera fotográfica
  • Carteira internacional com vacina de febre amarela em dia

Só de possuir um poncho impermeável você já evitará que todas suas roupas molhem e será salvo do frio extremo… Pois é, não imaginava que passaria frio numa trip na linha do Equador hahah.

Durante o relato detalharei os perrengues roraimenses.


GASTOS (2013)

Vou deixar os gastos para a trip completa dos 16 dias. Para ver os preços dos novos pacotes, mande um e-mail ou whatsapp para as agências e guias. Segue itens e valores apenas para ter uma base:

  • Avião São Paulo -> Boa Vista = R$ 1.700,00 (ano novo salgado. Comprei em cima da hora)
  • Pacote Salto Ángel + Monte Roraima = R$ 1.350,00.
  • Táxi Boa Vista. Aeroporto a rodoviária = R$ 10,00
  • Táxi Boa Vista a Fronteira = R$ 25,00
  • Táxi a Santa Elena de Uairén = R$ 2,00
  • Hospedagem Pousada Michelle (1ª noite) = R$ 20,00
  • Tour Gran Sabana = R$ 100,00
  • 2x Almoços e 3x Jantares em Santa Elena = R$ 70,00
  • Almoço e Jantar em Puerto Ordaz = R$ 60,00
  • Táxi Santa Elena a Aduanas a Boa Vista = R$ 35,00
  • Almoço Boa Vista = R$ 20,00

Resumo de gastos: Combinei tudo por facebook com o guia Marco, gastei R$ 1.350,00 para 12 dias de passeios, R$ 1.700,00 com passagem de avião e cerca de R$ 400,00 com gastos extras, totalizando R$ 3.450,00.

OBS.: Chequei preços para os 8 dias do Monte Roraima com a Extremo Ancestral em 2016 e estava em torno de R$ 2.500,00, mas você pagará menos se fechar diretamente com um guia local.


DICAS DE CÂMBIO (2013)

Este item também se repete em ambos os relatos.

Para a questão de trocar grana, não tem casa de câmbio no sul da Venezuela. Então troquei dólares na rua mesmo com um local que ficava balançando dinheiro cerca de 200 m pra frente da aduana brasileira. Troquei 200 USD por 4000 VEF e mal sabia quanto essa grana representava na Venezuela. O Marco me informou que o salário médio (não mínimo) do venezuelano gira em torno de R$ 140,00 (em 2013).

Eu paguei 1 pra 20 na conversão do dólar para o bolívar venezuelano (preço de dezembro/2013). Meu irmão foi no ano anterior e pagou 1 pra 8, sendo que a cotação oficial é 1 pra 6. Cerca de 2 meses depois que eu fiz essa viagem, a diferença subiu pra 1 pra 50!

Levei dólares, pois é mais fácil trocar pela moeda venezuelana e você vai precisar de um pouco. Mas se o intuito for apenas fazer o monte Roraima não será necessário pois todos em Santa Elena aceitam Reais, devido à proximidade com a fronteira. Com o Marco não foi diferente, já que para os 12 dias de tour ele aceitou tudo em reais. O bom é que sobrou alguns dólares e ele deixou que eu fizesse um mix de real com dólar para efetuar o pagamento.

Conto triste: troquei dólares com o primeiro indivíduo que cruzou o meu caminho, mas um amigo fez essa mesma logística um ano antes e se deu mal. Ele trocou 500 dólares por Bolívares Venezuelanos com um local ao passar pela aduana brasileira. Porém, assim que este local devolveu o equivalente em VEF ele gritou: “polícia, cuidado!” e foi embora. Como a troca já havia sido feita, meu brother não esquentou e foi até a aduana venezuelana. Lá ele foi ao banheiro e logo em seguida entraram dois policiais com tom hostil pedindo para que ele abrisse a carteira. Ele o fez e os policiais alegaram que ele estava com dinheiro falso e deram voz de prisão para ele. Só se safaria se pagasse mais 500 doletas. Resumindo, no primeiro dia de viagem ele perdeu 1000 USD e tomou a decisão de regressar para o Brasil logo de cara!

Mas as belezas da região são incomparáveis. Não deixe de ir!


O RELATO!!

Só o que fiz com antecedência para esta viagem foi conversar com um índio pemon guiano no facebook, enviar uma foto do meu passaporte pra ele (para autorização para entrar no parque) e comprar passagens de avião pra Boa Vista.

É um pouco esquisito fechar um passeio só pelo facebook, né? Antes de ir perguntava pro Marco quase que diariamente se tava tudo certo com a trip e ele sempre respondia que sim.

Ainda assim durante o vôo de ida comecei a fantasiar: “será que vou encontrar esse cara??” “Que faço se chegar lá e não encontrá-lo?”. Acho que o que me deixou mais tranquilo foi saber que meu irmão já tinha feito esse passeio.

Detalharei este encontro no decorrer do relato.


DIA 1 – De São Paulo a Boa Vista

Dia 20 foi uma sexta-feira. Trabalhei até às 17 e fui para o Aeroporto de Guarulhos pegar o avião para Manaus que saiu às 20:30.

Cheguei em Manaus por volta de 00:30 e tive que esperar duas horas no aeroporto para entrar no avião das 02:30 pra Boa Vista.

Cerca de 04 da madruga o avião pousou na capital roraimense. Não tinha muito o que fazer este horário então encostei num canto no chão para dormir no aeroporto de Boa Vista.


DIA 2 – Ida a Santa Elena

Acordei por volta das 7 da manhã e tomei um café. Saí do aeroporto a procura de táxis que me levassem até a rodoviária da cidade, que é de onde saem ônibus para a fronteira Brasil/Venezuela.

Ao sair do aeroporto recebi as boas vindas da Linha do Equador logo de manhã. Um bafo de calor intenso como raramente vi igual hahah.

Peguei um taxi para a rodoviária que custou R$ 10,00. Assim que cheguei pedi informação sobre traslado para a fronteira e de cara encontrei um taxista com 4 pessoas no carro terminando de por as malas no bagageiro. Perguntei se havia uma vaga sobrando e ele me colocou dentro do carro.

Os traslados para a fronteira custam um preço fico de R$ 25,00 por pessoa (ou R$ 35,00 até Santa Elena), então os táxis não saem com poucos passageiros, já que a estrada é longa.

Cerca de 215 km bem pavimentados separam Boa Vista da fronteira, então consegui dar um cochilada. Não faça o mesmo pois a paisagem é linda. Primeira amostra da Floresta Amazônica da vida.

Por volta das 11 da manhã o taxi me deixou na aduana brasileira, que estava com uma fila considerável. Esperei por uma hora, mas conheci um pessoal que alegou ter ficado 4 horas na fila pra carimbar o passaporte!

Troquei a grana com um local que foi extremamente simpático e ofereceu ajuda pra arrumar um taxi, mas fui andando até a aduana venezuelana, situada a 1 km da brasileira.

Depois de entrar na Venezuela peguei um taxi na rua que me cobrou o equivalente a R$ 2,00 pra ir até Santa Elena. O taxista conhecia a Pousada Michelle e me deixou a 200 metros da mesma, pois a rua do hotel era contramão.

Ainda meio inseguro se aquela pousada existia e se só com as informações boca a boca do Marco eu conseguiria encontrá-la, segui andando pela Calle Urdaneta.

Eu estava na calçada do lado esquerdo, quando, a 50 metros da pousada, um baixinho parrudo com cara de índio atravessava a rua para o mesmo lado que eu estava. Suspeitando de quem poderia ser e antes de chegar na pousada eu arrisquei: “- Marco?” Ele olhou pra trás e me reconheceu, pra minha tranquilidade hahahah

O Marco é um cara 1000% sangue bom. Ele conta várias histórias da região e detalha suas crenças de uma maneira bem bonita. É uma cultura muito interessante e vale a pena contemplar a devoção do povo com os tepuis e com a natureza. Fazer o passeio com ele foi um grande privilégio, mesmo com alguns contratempos que enfrentaríamos nos 12 dias que estavam por vir hehe

Tepui = montanhas formadas por chapadões de arenito que possuem formas muito peculiares, com paredes podendo atingir centenas de metros a quase 1 km de altura e sempre com o topo aplainado. Fato interessante é a devoção do povo local aos deuses que habitam a montanha. Mais pra frente contarei histórias relacionadas a isto.

Chegamos juntos na Pousada Michelle. Como não havia reservado nada, o Marco conseguiu uma vaga pra mim na hora. Mas disse que dei sorte pois normalmente eles lotam rapidamente.

Paguei R$ 20,00 só para um pernoite. As demais estariam dentro do pacotão que fechei com o Marco.

Me acomodei num quarto aconchegante e sai para comer alguma coisa e conhecer a cidade que é bem simples e sem grandes atrativos.

Horas mais tarde retornei para conversar com o Marco sobre o roteiro e enquanto ele não chegava troquei idéias com vários gringos. Esta pousada tem um clima de hostel bem bacana.

Pouco depois ele voltou e me apresentou o roteiro com os detalhes logísticos, os quais foram apresentados no item Roteiro e serão detalhados no decorrer do relato.

Após me passar os detalhes dos roteiros para o Salto Ángel e o Monte Roraima, ele me perguntou se eu queria fazer algum tour de 1 dia pela Gran Sabana no dia seguinte, já que o passeio para o Salto só teria início um dia depois.

Confirmei com ele o esquema, que custaria em torno de R$ 100,00, e me falou que eu faria este passeio num grupo que já possuía 6 brasileiros.

Quando eu viajo pra fora do Brasil eu evito contato extremo com brasileiros pra aperfeiçoar nas línguas, seja inglês ou portunhol. Mas o que ainda não sabia é que nesta trip eles viriam a ser tornar meus melhores amigos por 15 dias.

Fui dormir com uma mistura de sensações. Me sentia meio perdidão naquele mundão que só “conhecia” o guia, porém estava com uma expectativa tremenda para conhecer as atrações que me aguardavam. E claro, queria me relacionar bem com as pessoas que me acompanhariam pelo resto da viagem e estava com medo que os brasucas fossem malas hahah


DIAS 3 A 7 – Tour Salto Ángel

Este trecho da viagem consta na Parte 1 da minha trip venezuelana neste link.


DIA 8 – Trekking Monte Roraima

O tão esperado dia chegou.

Depois da mini-expedição para o Salto Ángel eu já estava bem enturmado com meus parceiros de Venezuela: Will e Rubinho de SP, as irmãs Jung e Su de Seul (ambas no Brasil há mais de 15 anos) que também moram em SP e Tizzi e Cândida de SC. Uma coisa que me impressionou nesta turma é que muitos deles se conheceram viajando e agora se uniram para conhecer o sul venezuelano.

Acordamos cedo, tomamos um café e encontramos outras 3 pessoas amigas do pessoal, Diego, Lívia e Zuri de São Paulo.

Além deles, o Marco também organizou outro grupo grande com outro guia. No total fomos em 2 grupos de cerca de 10 pessoas, incluindo: Beat e Marilen da Suíça, a Andressa do Espírito Santo, o peruano Gonzalo e sua esposa de Manaus, a Mirian, além de um casal de ingleses e 5 cariocas, dos quais só lembro o nome do Renan.

Entramos no jipe rumo a vila de Paraitepuy, ponto de partida para o grande Trekking ao Monte Roraima.

Caminho à Paraitepuy
A estrada para Paraitepuy (Foto: Rubinho Hojo)

Após 90 km de estrada, sendo 63 km pavimentados e 27 km de terra, chegamos na vila por volta das 10:30.

Início do 1º dia de trekking
Time do Trekking pro Monte Roraima

A vila de Paraitepuy é bem simples. Existem algumas casas de arquitetura humilde e uma estátua do libertador Simón Bolívar. Aliás toda cidade, povoado e vila na Venezuela possui uma estátua do Bolívar. O cara é mito.

A preparação para iniciar o trekking foi longa.

Fizemos o registro na guarita de entrada, conhecemos a simpática vila e aproveitamos para almoçar. Além disso, os guias fizeram a preparação para a trilha, distribuíram isolantes e sacos de dormir para quem não tinha e apresentaram o planejamento dos 8 dias de caminhada.

Aqui os guias oferecem a possibilidade de um carregador extra para levar sua mochila a um custo de cerca de R$ 400,00.

Tudo pronto e preparado e partimos para a nossa aventura às 13:00!

Da vila de Paraitepuy já se avista os tepuis irmãos Monte Kukenan e Monte Roraima. Os dois primeiros dias de trekking seriam apenas para alcançar os pés do Roraima.

Monte Roraima visto de Paraitepuy
Primeira vista do Roraima da vila de Paraitepuy, ponto de partida do trekking

Neste primeiro dia anda-se 13,4 km até o Acampamento Rio Tek, sempre com a vegetação rasteira da Gran Sabana, a qual fornece amplas vistas dos dois tepuis o caminho todo.

A trilha é fácil. Apenas após uns 3 km do início surge uma subida puxada de um ganho de 100 m, mas que não é tão longa assim.

Se você está acostumado com trilhas, não encontrará muitos problemas para chegar ao Rio Tek. Aliás, o Marco fala que se você sentir muita dificuldade nesta subida, nem precisa continuar o resto do trekking hahah.

Por volta das 17:30 chegaríamos no Acampamento Rio Tek, que possui excelente estrutura, incluindo cabanas e fornos a lenha.

Antes de o dia escurecer demos um pulo nas águas geladas do Rio Tek, o qual possui uma quedinha atraente e um bom poço para banho.

Curtimos um belo pôr-do-sol por volta das 19:00, que deixou o Roraima e o Kukenan com uma cor alaranjada fascinante.

Monte Kukenan
Vista do Monte Kukenan do Acampamento Rio Tek (Foto: Wagner Zuri)

Batemos aquele rango incrível e fomos nos preparar para dormir.

Estávamos na cota 1.180 m e nos dois próximos dias apenas subiríamos mais e mais.

Eu estava deveras ansioso e curioso para saber como seria visualizar o Monte Roraima de perto e mais ainda pra saber como seria o seu topo.

Mal podia imaginar as belezas que me aguardariam para esta grande trip.


DIA 9 – Rio Tek à Campo Base

Amanhecer do 2º dia de trilha
Amanhecer no acampamento Rio Tek (Foto: Diego Pugliese)

Você verá no decorrer do relato que o Diego Pugliese foi o grande colaborador com fotos, e que fotos! Seu flickr se encontra neste link.

Para muitos o dia mais difícil do Trekking, mas pra mim não foi. O pior pra mim foi o quarto. Mais pra frente conto o porquê 🙂

Tecnicamente, este é o dia com mais tempo de subida constante, mas nada de mais. Na real, nenhum dia do trekking é pesado de fato. Principalmente porque os guias levam barraca e comida e, pra mim, a mochila costuma ser o maior desafio.

O mais difícil, pra quem não está acostumado, é enfrentar chuvas constantes, ficar 8 dias fazendo cocô em saquinho, tomar banho gelado, usar a mesma roupa repetidas vezes, etc. Mas eu não ligo pra essas intempéries pois o contato com a natureza e a experiência de aventura superam quaisquer (ou a maioria das) adversidades. Desfrute de cada momento.

Sem perder o foco. Volta pra trilha.

Os primeiros 2 km deste segundo dia são fáceis, alternando trechos planos e de descida. Verá uma igreja bem charmosa pouco depois do Acampamento Rio Tek e logo depois surge o Rio Kukenan, cujas águas nascem no Kukenan Tepui.

Igreja
Igrejinha (Foto: Diego Pugliese)

Este rio possui cerca de 20 m de largura e um volume d’água bem mais generoso que o Rio Tek. É necessário atravessá-lo para prosseguir, o que às vezes é perigoso, visto que o nível d’água pode subir rapidamente.

Rio Kukenan
Rio Kukenan na ida

Na ida consegui passar pulando pelas pedras, mas na volta entrei no rio e molhei até as coxas. Se o nível estiver muito elevado os guias disponibilizarão travessia de barco numa porção com poucas pedras.

Após passar o belo Rio Kukenan começa uma subida incessante de 8 km até o acampamento situado na base do Monte Roraima. Ao final deste dia foi acumulado um total de 750 m de subida em 4 horas de caminhada.

Carregadores e suas mochilas confortáveis
Carregadores e suas mochilas feitas de nylon mini-ripstop com tecnologia VariQuick, 3D AirMesh e FreeFlow (Foto: Diego Pugliese)

Algo interessante de se observar é a diferença de perspectiva ao se aproximar do Monte Roraima. Lá de baixo ele é uma distante e bela montanha em forma de chapada que faz um lindo par com seu irmão Kukenan. De perto a imponência do paredão assusta e o panorama que se tem do Kukenan Tepui não fica para trás.

Campo Base Roraima
Galera confraternizando e vista do Kukenan já no Acampamento Base do Roraima (Foto: Diego Pugliese)

Chegamos no acampamento no início da tarde e tivemos bastante tempo para papear e confraternizar com os amigos viajantes.

O pôr-do-sol daqui foi melhor ainda que o do dia anterior e, infelizmente, seria o último da viagem.

Daqui pode-se ver de perto o rastro de vegetação no meio daquela parede aparentemente intransponível. Claramente o único ponto que permite acesso a pé ao topo do monte.

Paredão do Roraima
O paredão do Roraima. Pode-se ver à esquerda o caminho pela mata que dá acesso ao topo.
Paredão laranja do Roraima
Roraima em chamas durante o pôr do sol (Foto: Wagner Zuri)

O Campo Base já não possui a mesma estrutura que o Rio Tek. Há também um riozinho que dá pra banhar, mas ele é mais raso e a água é bem mais gelada. Talvez a mais gelada da viagem toda pois ele fica num lugar que não bate sol o dia todo.

Jantamos e fomos dormir ansiosos para enfim subirmos até o topo do monte, onde permaneceríamos pelos próximos 4 dias.


DIA 10 – Subida ao Topo do Monte

…Para outros este é o dia mais difícil do trekking, pois apresenta as porções de aclive mais acentuado e a perigosa passagem do Passo das Lágrimas.

Acordamos às 07:00, tomamos café e tornamos a caminhar às 09:00.

Logo de início entramos naquela área de vegetação bem densa. No começo ainda tínhamos vistas do caminho que fizemos até aqui e da baixada do morro, mas logo qualquer paisagem foi escondida pela vegetação e pelas nuvens que dominaram o paredão.

Era como se entrássemos em um portal para um mundo totalmente distinto, que nos aguardava lá no topo.

Mas antes de chegar no cume vou explicar como foi a subida.

Os primeiros 1,4 km de caminhada eram só de aproximação ao paredão. Este trecho possui diversas porções de subidas de lama bem escorregadias.

O segundo trecho segue bordejando o paredão e segue 1,9 km por trilha em mata fechada, andando paralelamente à parede do monte. Neste ponto baixou uma névoa que impossibilitou visualizarmos qualquer paisagem que não fosse o monte.

Por fim, chega-se num ponto em que se avista o Passo das Lágrimas. Desce-se um morrinho e depois se inicia esta perigosa passagem, onde se inicia a subida final sobre pedras soltas que estão lisas devido às águas que gotejam incessantemente no local.

Paso das Lágrimas
A famosa subida do Passo das Lágrimas

Mais 700 metros de subida andando em rocha até que um visual de pedras pretas peculiares começou a se desenhar.

Era ele, o topo do Roraima se revelando e, NOSSA, que visual!

O topo do Roraima é quase todo composto por um arenito cinza escuro, que tem esta coloração devido a processos intempéricos, os quais também são responsáveis por formar as diversas feições rochosas tão características que se encontram no seu topo.

Chegando no topo do Roraima!
Primeiro contato com o Roraima

Com fotos dá pra tentar dar uma noção de como é, mas só indo lá mesmo pra sentir. Panorama deveras surrealístico!

O cenário ficou mais místico ainda pois havia uma névoa que deixava o dia mais escuro, então as rochas estavam quase pretas.

Andamos mais uns 500 metros numa subida leve e em breve começamos a andar numa laje de rocha plana e muito extensa, com uns brejos no caminho.

Visu de outro mundo
Will brisando no topo do Roraima

Teoricamente não há uma trilha marcada, mas há muitos turistas passando diariamente e causando desgaste da rocha só com os pés, facilitando a orientação através de um rastro bege que mostra a coloração original da rocha.

E seguíamos contemplando como loucos enquanto caminhávamos num mar de rochas pretas úmidas sem igual.

Fauna e flora roraimense

A fauna e a flora no topo do monte são bem impressionantes também, com várias espécies endêmicas, inclusive o famoso sapinho preto de 1 cm, a micro planta carnívora, entre outros.

Caminhamos mais 1 km naquele lindo cenário até chegar às 14:30 no nosso acampamento, o Hotel San Francisco. É chamado hotel pois é uma área perfeita para acampar, mas é uma gruta na verdade.

Hotel San Francisco
Hotel San Francisco (Foto: Diego Pugliese)

Enquanto os guias e carregadores instalavam acampamento nós fomos desfrutar do lugar.

Mais tarde tomamos banho nos pequenos lagos que existem no topo do monte e voltamos para jantar.

Foi um dia mágico, cheio de experiências novas, mas o topo do monte ainda nos traria momentos ruins e desanimadores e momentos de extrema contemplação e realização.

Coloque o saquinho embaixo e manda bala
Nosso vaso comunitário (Foto: Jung Yun Chi)

DIA 11 – Punto Triple e Gruta do Quati

Lembra que falei que o quarto foi o dia mais difícil da trip?

Pois é. Devido a um despreparo meu quanto a um singelo fator chamado chuva.

Mas eu não fui o único a sofrer, aliás algumas pessoas ficaram incomodadas de verdade, eu só tava morrendo de frio hahahah

Segue o descritivo deste dia, que não teve muita curtição.

Acordamos numa manhã chuvosa às 7:00 e começamos a caminhar às 9:00. Todos sabemos que isto não é horário de iniciar um trekking, a não ser que seja muito curto.

Aí você pensa. “Poxa, mas você falou no roteiro que neste dia são caminhados 12,2 km. 9 horas de luz não são suficientes pra se caminhar 12 km?”

Não no topo Roraima e num grupo de 10 pessoas e num dia com muita chuva.

“Ué, mas ainda assim você disse que o topo do Roraima é plano. Qual a dificuldade de andar?”

Como já dito, os tepuis são montanhas com o topo aplainado, e de fato se caminha boa parte do tempo sobre terreno plano. Porém, existem muitos trechos um pouco mais técnicos de trepa pedra, pula pedra e desce pedra bem perigosos e trabalhosos. E lembre-se que este dia estava chovendo, então estava tudo muito úmido e escorregadio.

A primeira metade do dia foi mais tranquila. Andamos bastante tempo em longos lajedos de rocha e a chuva estava menos severa e até cessava em alguns instantes.

Dava até pra ver pessoas com rostos felizes e tirando fotos… Mas esta condição não duraria muito tempo haha.

Formações roraimenses
Zuri e belas formações roraimenses

Não vimos o sol o dia todo, mas por volta da 1 da tarde ele tentou nos animar um pouco e radiou por alguns minutos… Foi a última trégua antes do que viria no período da tarde.

Outro vacilo dos guias deste dia foi ter parado uma hora para o almoço.

E foi quando o Marco avisou que a Gruta do Quati poderia já estar lotada de barracas, mas que havia outro “hotel” de back up. Hmmm, sei não…

Bom, este dia também revelou diversas feições rochosas muito lindas, inclusive formas similares a animais, como a “tartaruga”, o “urso, o “macaco” e o “elefante”. Tem também a vista do “homem deitado” e tudo mais o que for possível imaginar. Quando estiver lá você entenderá 🙂

Formações curiosas
Tartaruga, urso, homem deitado e sei lá… Disco voador

Andar naquele cenário não enjoava. Era lindo demais!

Mas mesmo assim a chuva deu uma desanimada nos ímpetos.

Após o almoço a coisa mudou. A chuva apertou muito e os trechos de trepa estavam muito mais difíceis. Nosso ritmo ficou bem lento.

Particularmente, achei essas passagens bem divertidas, mas como as pedras estavam molhadas, o número e a intensidade dos capotes começaram a aumentar consideravelmente.

Mas chegou um momento em que fiquei completamente ensopado e senti muita falta de um poncho impermeável ou de uma jaqueta a prova d’água de verdade. A minha foi pro saco bem rápido…

Molhados e gelados
Chuva e frio no topo do Roraima (Foto: Tizzi Koelzer)

Passei um frio que há tempos não sentia. Foi tenso. E o pior que nem dava pra sair correndo pra aquecer porque as passagens eram bem perigosas.

Por volta das 16:30 chegamos no El Fosso, um lindo poço de cerca de 20 metros de diâmetro e uns 10 de profundidade que possui uma bela cachoeira caindo dentro. Infelizmente, não tivemos tempo para banhar por causa do nosso atraso.

El Fosso
Belíssimo El Fosso e a Su no canto direito

Menos de 1 km à frente e atingiríamos o Punto Triple, fronteira entre os países Brasil, Venezuela e Guiana.

O Punto Triple não tem nada de muito especial, só um totem de 2 metros marcando o ponto de encontro dos países (que por sinal não coincide com o Google Earth heheh).

Punto Triple
Punto Triple. Fronteira Brasil x Venezuela x Guiana (Foto: Renan Loureiro)

Até então só havíamos caminhado no lado venezuelano, mas após o Punto Triple passamos a andar no lado brasileiro.

E foi nos últimos minutos de luz do dia que as passagens ficaram mais complicadas de passar.

E não deu outra. Estávamos próximos da Gruta do Quati, porém o dia começou a escurecer e a preocupação aumentou. Andar naquele terreno irregular com baixa luminosidade não é tarefa mole.

Ainda no lado brasileiro do topo do monte, chegamos na Gruta do Quati com pouquíssima luz, mas adivinha? A caverna já estava forrada de barracas.

O Quati é impressionante. Talvez o melhor lugar para acampar do topo do monte. A gruta possui cerca de 10 metros de extensão por 4 de largura e uma superfície bem plana, num espaço totalmente abrigado de chuvas.

Gruta do Quati
A incrível Gruta do Quati (Foto: Diego Pugliese)

Então pegamos as lanternas e fomos até o Hotel Nuevo, que fica a uns 500 metros da Gruta do Quati e no lado guiano do monte.

Caminhar na chuva à noite depois de passar o dia todo molhado foi o ápice do frio.

O Nuevo nem se comparava na qualidade do abrigo que o Quati oferecia. A chuva batia sobre as barracas e a superfície do chão era irregular.

Essa hora foi sinistra, pois ninguém conversava. A gente só queria se aquecer e dormir.

E foi bem assim. Os guias nos serviram sopa em cada barraca e logo capotamos. Claro que depois eles ouviram uma bronca da gente pelo que passamos neste dia.

Só esperávamos que no dia seguinte nossa sorte mudasse para que pudéssemos conhecer o topo do Roraima com mais alegria.


DIA 12 – Lago Gladys

O perrengue no dia anterior foi tanto que muita gente sugeriu de irmos embora caso o tempo não melhorasse neste dia.

Ainda bem que o dia seguinte amanheceu mais ameno e, apesar de ainda estar nublado, não estava chovendo. E o solzinho até dava impressões que estava tentando aparecer.

Hotel Nuevo
Hotel Nuevo pela manhã (Foto: Diego Pugliese)

Tomamos café e fizemos a mudança para a Gruta do Quati, onde passaríamos a ceia de ano novo.

Saímos para caminhar às 9:00 e o melhor, sem as mochilas.

Hoje andaríamos o dia todo no lado guiano do topo do monte.

O tempo estava relativamente aberto, entretanto em menos de uma hora fechou novamente. Não choveu tanto como no dia anterior, mas a chuvinha fraca e contínua não era exatamente a definição de agradável.

E seguimos adiante por aquele paraíso de rochas e feições bem particulares do Roraima.

Após 2:20 horas de caminhada chegamos no Rio Oro, um belo rio com cerca de 5 metros de largura e um volume considerável de água. Ele forma uma das belas cachoeiras que caem do topo do monte.

Rio Oro
Rio Oro

Cerca de 4 km da Gruta do Quati alcançaríamos o mirante para a floresta da Guiana, mas com um imenso porém: as nuvens não permitiam que visualizássemos 10 metros à frente quanto mais um mirante que mostrasse a floresta e lá embaixo.

Eu já estava completamente realizado de ter feito esta trip. Mesmo com as chuvas e o frio, estar no topo do Monte Roraima é uma daquelas sensações inigualáveis da vida. Mas eu tinha só um último desejo pra viagem ficar completa e este desejo era ter alguma visão da baixada do monte.

Mas as coisas não estavam culminando para que isto fosse possível. Estava sempre nublado e nublado… Aguardamos alguns minutos mas as nuvens não dissiparam, então seguimos adiante para norte buscando encontrar o Lago Gladys.

Jump!
Zuri no meio do jump (Foto: Diego Pugliese)

Aproximadamente 500 metros adiante chegaríamos no Lago Gladys por volta das 12:30, mas não dava pra ver nada mais uma vez por causa das nuvens.

Como estava cedo sentamos e ficamos aguardando.

Neste momento o Marco sumiu…

Depois de uns 15 minutos esperando, o vento aumentou e as nuvens que pairavam sobre o lago davam sinais de planejar uma trégua para os turistas curiosos.

E pra nossa alegria o grande Lago Gladys aos poucos revelava sua verdadeira dimensão… E que surpresa!

Tente imaginar um imponente lago de 60 por 120 m, considerando que até então apenas se caminha sobre superfícies de pedra. Ele é mágico, não é à toa que de fato ele é considerado sagrado pelo povo da região.

Lago Gladys
O sagrado Lago Gladys

Conto interessante: eu já havia dito que os guias acreditam nos deuses da montanha, não é? O Marco relatou um conto envolvendo o Lago Gladys. Um dia ele estava caminhando próximo ao lago e pensou em tomar um banho em suas águas. Repentinamente, o tempo começou a fechar, o céu ficou escuro e uma chuva forte despencou. Logo ele mudou de ideia e se desculpou com os deuses da montanha.

Nós também presenciamos um episódio super místico…

Após curtirmos a bela vista do lago, seguimos o caminho da volta em direção à Gruta do Quati, ainda sem o Marco que continuava sumido.

Mas antes de pegar o caminho do regresso demos outra passada no mirante da floresta da Guiana, que no momento permanecia coberto por nuvens.

Já perdendo as esperanças de poder contemplar alguma vista que não fosse o próprio topo do monte, adivinha quem ressurge?

Marco, o índio pemon! E desta vez vestido e pintado como um legítimo índio!

Marquito indião
Marco, poucos segundos antes da magia (Foto: Jung Yun Chi)

Mas ele não fez isso para aparecer e sim para conversar com os deuses da montanha. E adivinhem o que aconteceu??? Exato! As nuvens dissiparam completamente e passamos a ter um visual limpo por quilômetros! hahaha

Coincidência ou oração, o êxtase foi frenético. Se não tivemos vistas do lado venezuelano ou brasileiro, o panorama do lado guiano era estupendo.

Floresta guiana
Lindo mirante para a floresta amazônica da Guiana

Aquela imensa floresta a se perder de vista e os mini tepuis que se revelaram à nossa frente consolidaram o desfecho perfeito para esta viagem.

Como se já não fosse o bastasse para um mirante, o Marco me chamou pra deitar bem na beira do abismo, de um ponto que era possível ver uma imensa cachoeira caindo daquela parede sem fim. Não aguentei de surpresa e dei um baita grito na hora heheh

Super queda!
Marilen contemplando super queda e Monte Roraiminha ao fundo

Se o tempo estiver estável, é possível prosseguir até a Proa, que marca a extremidade norte do Monte Roraima, mas nós não fomos.

Vista linda do Topo do Monte
Vista do Topo do Monte Roraima

E seguimos de volta para a Gruta do Quati.

O resto do dia foi bem menos frio e o sol surgiu para secar nossas roupas.

Chegamos no nosso acampamento por volta das 16:00. No total deste dia foram caminhados 10 km.

Depois ainda ficamos curtindo um tempo num laguinho próximo ao Quati.

Já de noite, os 2 grupos se uniram e os guias nos prepararam uma super ceia de ano novo com a típica comida venezuelana. Foi uma bela confraternização!

Fomos dormir por volta das 22:00.


DIA 13 – Vale dos Cristais e Jacuzzis

Feliz Ano Novo!

Este sexto dia não foi somente um dia de regresso. Fizemos um caminho diferente do realizado na ida por boa parte do dia.

De início, o caminho foi o mesmo até quase chegar no Punto Triple, quando pegamos uma bifurcação à esquerda e em menos de 500 metros chegaríamos no Vale dos Cristais.

O lugar é belíssimo e compreende a maior aglomeração de cristais de quartzo que já vi na vida. Os cristais estão dispostos numa área imensa e possuem variados tamanhos. É realmente incrível.

Vale dos cristais
Vale dos cristais

Seguimos adiante por longas lajes de pedra até reencontrar o caminho que fizemos na ida, já na porção menos complicada.

Por volta das 15:00 alcançaríamos o Hotel San Francisco.

Deixamos as coisas e enquanto os guias montavam acampamento, nós fomos até as Jacuzzis, que ficam a 1,4 km do hotel.

As jacuzzis são piscinas naturais de água cristalina e translúcida muito agradáveis para se banhar. Ficamos mais ou menos 1 hora por lá e voltamos para nosso camping.

Jacuzzis
Jacuzzis e suas águas cristalinas (Foto: Rubinho Hojo)

Neste dia caminhamos 12,2 km de regresso até o acampamento e mais 2,8 km de ida e volta até as Jacuzzis.

Além das atrações que mencionei no topo do morro, há outros mirantes para a parte baixa do Roraima, como o mirante do Kukenan Tepui e o de Paraitepuy. Também é possível subir a pedra Maverick, ponto mais alto do monte, com 2.810 msnm, mas não fomos, pois, o tempo estava fechado e havia chovido muito.


DIA 14 – Topo do Monte a Rio Tek

O famoso dois dias em um.

Lembra que na ida levamos um dia para se deslocar do Rio Tek até o Campo Base e outro dia do Campo Base até o topo do Monte Roraima?

Então, neste dia desceríamos do topo do monte direto para o acampamento Rio Tek.

A descida foi desgastante, já que foi uma caminhada de 15,3 km e quase 1.600 m de desnível.

O caminho não apresentou segredos, com exceção do Rio Kukenan que, como já disse, seu nível estava bem mais elevado e dificultou a travessia.

Mas o que mais marcou neste dia foram as festividades da nossa última noite acampando juntos depois desta magnífica expedição.

Os guias fizeram um grande jantar pra galera, trocamos muita ideia sobre a grande viagem que fizemos e como foi bom ter encontrado e nos enturmado.

Pra finalizar ganhamos camisetas personalizadas com os nossos nomes e ainda teve uma dancinha tradicional muito peculiar.

Eu, Marquito e Will
Eu, nosso guia Marquito e o Will

DIA 15 – Regresso à Santa Elena

O último dia, infelizmente. E também o mais fácil.

Repetição do primeiro dia do Rio Tek até Paraitepuy, sendo caminhados 13,4 km. No total dos 8 dias do Trekking do Monte Roraima foram percorridos 95 km a pé.

Mas o momento mais trash da viagem pra mim foi após terminar o trekking.

Quando cheguei em Paraitepuy comecei a passar mal.

Saímos de lá e fomos almoçar num restaurante famoso pelo tempero de pimenta feito com formigas da região, a tocandira.

Até experimentei mas passei o resto do dia na cama e nem fui na pizzada de confraternização na última noite da viagem.

Fui dormir às 18:00 e só acordei no dia seguinte.


DIA 16 – Retorno à São Paulo

Já passando bem melhor, tomamos nosso rumo e saímos de Santa Elena sentido São Paulo.

Demos saída nas aduanas, e pegamos táxis para Boa Vista.

Almoçamos num restaurante típico e depois fomos ao aeroporto de Boa Vista embarcar para São Paulo.

E foi assim que acabou esta incrível viagem. Tanto o Salto Ángel quanto o Monte Roraima são lugares únicos e indispensáveis para qualquer amante da natureza. Não deixe de ir!

Muito obrigado por ler! Veja também a experiência do Salto Ángel neste link.

Forte abraço!

Galera do Roraima
(Foto: Gonzalo Renato Núñez Melgar)
  1. Hugo da Silva Alves Hugo da Silva Alves

    Olá Vítor, como estás companheiro? Conheci agora seu perfil no wikloc e vim até seu blog. Tbm sou aventureiro e meu mundo tbm é outside the box. Estou escrevendo pq vim aqui ler seu relato do Roraima, e creio que precisará alterá-lo um pouquinho (rs). Vc diz que conhece, até então, uma pessoa que fez por conta. Pois então, agora vc conhece duas. Em dezembro de 2013 eu vivenciei um sonho. Completamente autônomo e “solitário”, eu fui de Boa Vista à Proa do Roraima, ida e volta, em 9 dias. Nunca escrevi meu relato, mas eu treinei meu corpo, organizei todos os suprimentos e equipamentos, li relatos sobre a possibilidade de ir assim, e fui, na coragem e confiança. Como estava sozinho, e bem treinado, consegui otimizar ao máximo meu tempo e caminhar o máximo que pude. A única exigências dos guardas parques foi eu contratar um guia local, que me acompanhou até chegarmos ao primeiro acampamento, depois fui completamente autônomo, sem guia ou carregadores, livre como se deve ser. Não sou profissional em esportes de montanha, mas me considero um bom amador com longas e homéricas expedições. Esta ao Tepui foi certamente a minha maior em solo trekking. Foi simplesmente sensacional, e guardo os mais diversos detalhes ainda frescos na lembrança. Forte abraço, Vítor. Quem sabe nos encontramos um dia desses no PP.

    • VictorPrates VictorPrates

      Hugo, meu parceiro. Desculpa a demora colossal. Sempre bom conhecer pessoas no mesmo espírito. Monte Roraima é um lugar inesquecível, fala aí? Já sabia que precisava alterar este relato também porque a cotação da moeda venezuelana tá incrivelmente baixa. Animal que fez sozinho. Então não precisa nada do lance de autorizações prévias e retirar em Pacaraima? É só contratar um guia local até Paraitepuy e depois ir solo? Mas será que às vezes a recomendação é fazer com as autorizações, mas o pessoal de lá não se preocupa muito?

      • Hugo Alves Hugo Alves

        Salve, Vitor!! Agora fui eu que demorei anos pra responder!! Sim, o Tepui é animal, inesquecível!! Quero ir de volta neste fim de dezembro, autônomo mais uma vez.
        Cara, na época não fui atrás de autorização alguma, e tbm ninguém me pediu nada do tipo. Eu cheguei sozinho até a vila Pemon, pegando um táxi de Santa Helena até a entrada da estrada de chão, e uma carona num jeep que ia até a vila. Lá na vila conversei com o guarda parque e ele mesmo me aconselhou conversar com um guia que estava saindo naquele dia com um grupo. Acertei um valor com o guia (algo como R$50) e ele assinou os papéis de entrada junto a mim, e pronto, me pus a caminhar e apreciar. Logo no segundo dia o grupo deste guia decidiu acampar na base do Tepui, e neste momento me desgarrei do grupo e segui até o topo no mesmo dia. Daí em diante, andei independente pra todo lado, compartilhando diferentes lugares com distintos grupos, mas tbm andando bastante sozinho. Desta forma, aproveitei mto lá em cima da montanha, dormindo 4 das 5 noites da expedição lá em cima.
        Eu tive muita sorte, pois nada de ruim me aconteceu e na maioria dos dias peguei sol, com pouquíssima chuva, e uma lua cheia dislumbrante. Foi animal!!

        • VictorPrates VictorPrates

          UAU Hugo! Deve ter sido uma baita experiência. Quem sabe um dia eu não volte a faça algo mais roots assim hahaha. Deve ser lindo poder andar free lá em cima. Curto muito mais rolês independentes. Valeu por compartilhar sua trip. Um abração!

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